Exposição mostra como nasceu um país para turistas

por Comunidade Cultura e Arte,    11 Abril, 2018
Exposição mostra como nasceu um país para turistas
PUB

Portugal Imaginário — Turismo, Propaganda e Poder” abre portas na Casa do Design de Matosinhos na próxima semana e revela material gráfico criado pela propaganda do Estado Novo.

Era uma vez um país pobre, sujo, fechado e atrasado. Chamava-se Portugal e, nos cartazes da propaganda, aparecia soalheiro, moderno e civilizado. A tradução gráfica do processo de invenção deste outro país à medida do gosto dos turistas é o mote da exposição “Portugal Imaginário — Turismo, Propaganda e Poder (1910-1970)”, que será inaugurada na Casa do Design de Matosinhos no dia 18 de Abril, pelas 18 horas, e que ficará patente até 1 de Setembro.

Comissariada por José Bártolo e Sara Pinheiro, a exposição centra-se nas ferramentas de divulgação turística no tempo do ditador António Oliveira Salazar e, mais concretamente, nos cartazes, brochuras, revistas, livros e objectos de arte popular que permitiram configurar o “Sunny” Portugal. Numa altura em que o número de turistas que nos visitam bate sucessivos recordes, “Portugal Imaginário — Turismo, Propaganda e Poder” promove uma oportuna reflexão em torno das ferramentas usadas na criação de um país para turistas, mas também sobre o surgimento de um novo paradigma estético e a grande renovação das artes gráficas que o acompanhou.

Documental e iconográfica, a exposição traça uma panorâmica sobre a evolução do turismo em Portugal entre o início do século XX a década de 1970. Identifica as temáticas, as expressões gráficas e as principais linhas de orientação ideológica das entidades que, ao longo deste período, assumem a promoção turística nacional, nomeadamente a Sociedade de Propaganda de Portugal, o Secretariado de Propaganda Nacional e o Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo.

“Num contexto de gentrificação das principais cidades portuguesas, (…) esta exposição da Casa do Design possibilita um aprofundar do conhecimento em torno de uma idealização nacional veiculada pela comunicação turística e de propaganda, iniciando-se no contexto de um ideal internacionalista da 1ª República e reconfigurando-se — já depois da concretização do Estoril como estância turística criada de raiz e do milagre de Fátima — com o Estado Novo. A promoção turística foi durante este período um dos mais eficazes instrumentos de propaganda nacional e política, na criação de um Portugal Imaginário, sob a direção de António Ferro, para o qual contribuíram notáveis designers e ilustradores modernistas (Fred Kradolfer, Paolo Ferreira, Bernardo Marques, Tom entre outros), na sua maioria esquecidos pela História da Arte e do Design devido às suas ligações ao regime”, notam os comissários da exposição.

Portugal Imaginário — Turismo, Propaganda e Poder” permite, assim, descobrir os destinos turísticos publicitados pelo Estado Novo, desvendando as motivações associadas à criação do imaginário turístico português assente no sol e na apropriação, recriação e falsificação da ruralidade e do folclore. O retrato deste país supostamente moderno possibilita também um outro olhar sobre a identidade contemporânea portuguesa e as suas narrativas, ora realistas, ora idealistas.

Organizada pela Câmara Municipal de Matosinhos e pela esad—idea, Investigação em Design de Arte, esta mostra contará, a partir de 10 de maio, com uma grande exposição evocativa dos 250 anos da Imprensa Nacional.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados

por ,    25 Novembro, 2021

Nestes últimos dias, navegando pelas redes sociais, tenho encontrado várias pessoas que citam, sem aparente honestidade, as atuais restrições de entrada em certos espaços e eventos, em vigor para quem não possui o certificado de vacinação, comparando-as depois com as restrições de acesso aos espaços para quem não tinha o "certificado de arianismo", ou "Ahnenpaß", na Alemanha Nazi. Este é muito possivelmente o argumento mais dúbio que estas pessoas poderiam partilhar sobre o assunto. Mais facilmente um "reductiu as hitlerum" destes seria usável e instrumentalizável contra negacionistas e opositores de medidas de contenção da pandemia, lembrando que eram precisamente os nazis que defendiam que os elos mais fracos deveriam ser deixados para trás...

Ler Mais