Entrevista. Márcia: “Não há maneiras erradas de fazer música”

por Miguel de Almeida Santos,    15 Dezembro, 2019
Entrevista. Márcia: “Não há maneiras erradas de fazer música”
Fotografia de Pedro B. Maia / CCA
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Não é só por causa da sua doce voz que Márcia é uma pessoa carinhosa. Percebe-se no fascínio com que fala sobre o seu caminho musical, dos seus fãs, na maneira como trata de forma melífera as suas músicas por “canções”, que há qualquer coisa de muito terno na sua atitude. Depois de um percurso multifacetado, chega agora aos dez anos de carreira mais segura de si e pronta a abraçar novos desafios. No cerne de tudo, está ela e a sua guitarra. Mas hoje, o que a define é muito mais que isso . 

Prestes a actuar no Coliseu dos Recreios no concerto de consagração da sua jornada musical – que conta com quatro álbuns e um EP – Márcia sentou-se com a Comunidade Cultura e Arte para discutir o seu percurso e as suas influências, as próximas etapas da sua carreira e o que podemos esperar do seu espectáculo na mítica sala lisboeta.

O teu percurso é definido pela procura da arte. Cinema documental. Curso de Belas-Artes. Música. Há algum tipo de expressão artística que informe a outra? Que te inspire no dia-a-dia para escrever e compor?
Sim, eu acho que tudo o que eu vejo, todas as relações que eu tenho [me inspiram]. Lembrei-me de um filme que fui ver, o último do [Pedro] Almodóvar [Dor e Glória], que eu achei extraordinário e mexeu bastante comigo. Fez eco com toda aquela questão do amor e da infância, e de tudo aquilo que nos fica e que nós achamos que vamos esquecer durante a vida. À medida que vamos crescendo vamos achando que a infância vai ficando para trás. E não, está cada vez mais impressa no corpo, e é um tema que eu tenho andado a mergulhar bastante. E isso é às vezes o papel da arte, tu dizeres uma coisa que outra pessoa ou imensas pessoas queriam dizer mas ainda não tinham encontrado maneira, ou dizem de outras maneiras. A partir desse momento há uma identificação e uma coisa que se chama cura, que é tu perceberes que há sentimentos universais. Há sensações universais, há valores universais. Isso mexe comigo. Eu não tenho praticado muita pintura, se bem que fiz uma serigrafia inspirada no meu disco. Como é um disco que fala de seguir em frente e de te libertares, eu desenhei essa estrada. Eu digo que aquela última canção é a música da estrada toda porque tem um solo enorme para tu ouvires enquanto vais a conduzir ou vais a viajar. E outra parte da minha veia de formação, talvez o cinema. Co-realizei o vídeo do “Corredor” e agora realizei um novo, o “Amor Conforme”.

Fotografia de Pedro B. Maia / CCA

Isso é alguma coisa que agora daqui para a frente podemos esperar ver mais, tu ao leme de videoclipes?
Não, aconteceu assim porque eu tinha aquela ideia para aquele vídeo, tinha muito aquela imagem do “Amor Conforme”. Porque eu imaginava que ela estava dentro de casa e começava a entrar num sonho acordado que se ia embora. E depois com o que é que ela se cruzava pelo caminho? A imensidão do mundo. E era difícil estar a dizer isso a uma pessoa. É uma coisa um bocadinho ingrata pedires a um criador para realizar um vídeo que tu é que imaginaste, executar uma ideia que é tua. Como eu queria muito que fosse aquela ideia, realizei. Mas não tenho a pretensão de ser a realizadora dos meus videoclipes.

É só quando que a ideia é mais pessoal e mais específica de ti que sentes que não consegues transmitir da maneira que achas que consegues mostrar na câmara.
Sim, se bem que eu sou um bocadinho abelhuda [risos]. Como a maior parte dos videoclipes são feitos pelo meu marido, estamos sempre num trabalho também conjunto. Mesmo quando é ele a realizar eu vou. Ele fez a “Insatisfação” praticamente sozinho, aí não meti o meu dedinho [risos]. Mas eu meto-me muito no processo das coisas. Mesmo na mistura do disco, sei que muitos músicos delegam a mistura para o engenheiro de som e para o produtor. Como sou produtora não delego essa parte mas não é por ser produtora, é porque não quero aquilo daquela maneira. Cada pessoa tem a sua decisão e a mistura é um processo muito importante para mim. Eu estou sempre na mistura, cada vez mais, e então neste último [álbum], era tirar montes de coisas e ser um bocadinho autoritária [risos]. Éramos três produtores no Vai e Vem: eu, o Filipe [C. Monteiro, guitarrista] e o João Pimenta Gomes, que é o Kid Gomez. Cada ouvido vai decidir uma coisa diferente mas quem tinha de decidir era eu, porque é o meu disco. Até brincava a dizer para eles depois assinarem uma outra versão de autor, e ao engenheiro de som dizia-lhe para fazer um director’s cut [risos]. Sou criteriosa naquilo que eu faço, se calhar demasiado. São coisas em que não me abstenho de opinar e de tomar decisões, porque fui eu que fiz. Uma coisa que eu descobri foi que não há maneiras erradas de fazer música, de terminar uma mistura, há infinitas possibilidades. Quando eu estudava Desenho, houve um professor que me marcou bastante. Porque nos fez um exercício que era fazer um desenho de determinada coisa e depois dividir em metade e aprimorar só a metade de baixo, com as cores, e depois contornar com um traço negro o que achássemos importante. Aí percebes que o desenho nunca termina, e na música é igual. Tudo aquilo que tu estás a criar, se quiseres não termina, tomas uma decisão de que ali já está bom. E isto neste disco aconteceu bastante, há canções que terminam abruptamente, tipo o “Corredor”. Acaba a última frase e acabou a canção. E o meu objectivo nem é surpreender, é só mesmo dizer aquilo. Já disse, acabou. Cada um tem os seus critérios, eu tenho esses. 

Quais foram as pessoas que mais te influenciaram ao longo do teu percurso?
Há uma pessoa que me influencia bastante que é a Sara Tavares. Aquele último disco é totalmente ela do princípio ao fim, e é uma artista que eu admiro. Ela não precisa de se impôr, tem um vozeirão, e canta numa onda de som super serena. Há outra mulher que eu admiro bastante, que é a Catarina Furtado. Também me influencia porque acho que ela podia estar cá a ver-se ao espelho e cómoda e não, ela faz imensas coisas. Vai para o meio dos campos de refugiados e investiga, é missionária, e eu acho que isso é bonito. O Sérgio Godinho, o Jorge Palma. O Vitorino, como referência de pessoa. Eu conheci o Vitorino para aí há dez ou doze anos e ele apareceu muito poucas vezes na minha vida mas sempre que apareceu foi com uma frase. Uma vez saí de um palco e ele deu-me um abraço e disse “Estás cada vez melhor, Márcia!”. Nós tínhamos cantado juntos três anos antes e para mim foi o maior elogio que eu podia ter tido! É uma pessoa muito interessante e é um autor incrível. Ele tem uma canção brutal cantada pela Carminho… [cantarola a melodia] O “Fado do Adeus”, cheguei lá! [Risos] Para além disso ouvia-o muito quando era pequenina, tinha um livro com ele vestido de lobo mau, as canções infantis, para mim sempre foi uma pessoa muito importante. É alentejano, como o meu pai, há uma certa admiração. É uma pessoa que me influencia bastante, apesar de não me vestir como ele. Esse tipo de pessoa para me influenciar não existe. Tenho uma coluna vertebral que tem lá dentro a Sade. E hoje em dia, que tu vês tanta música electrónica, a Sade é uma referência porque ela já fez isso há vinte anos. Até há coros do Prince que ecoam em músicas novas. Ela [Sade] faz parte da minha coluna vertebral, assim como esqueleto e como influência. Tem muita coisa ali de beats e hip hop e de vocais, aqueles coros, toda aquela serenidade a cantar. Às vezes quando eu cantava e me diziam “não podes cantar um bocadinho mais alto?” Depois vi o concerto gravado da Sade e pensei que se ela consegue cantar baixo eu também consigo. É uma referência boa. É uma pessoa completa que eu admiro pela atitude, pela postura, pela imagem dela, pela maneira de cantar.

Fotografia de Pedro B. Maia / CCA

Ao longo da carreira, a tua sonoridade tem vindo a ficar cada vez mais polida e concentrada. Parece existir um relaxamento progressivo e uma calmaria confortável. Mas as versões de músicas do Zeca Afonso que lançaste este ano mostram-te a ir noutra direcção. Uma apoia-se na sua voz e em algo mais tradicional (“A Presença das Formigas”) enquanto que a outra é mais digital (“A Morte Saiu À Rua”). Como é que a tua música mudou nestes dez anos?
É uma coisa que me faz pensar bastante. Essas foram de facto as últimas canções que eu construí e lancei, porque eu construí outras que ainda não lancei. Foi por causa de um desafio que me propuseram, fazer versões do Zeca Afonso por altura do 25 de Abril. E eu aproveitei para experimentar coisas. Eu comecei com um EP [Márcia] que era guitarra e voz. E experimentei imensos arranjos ali, imensos músicos diferentes tocaram aquelas canções, e eu nunca ficava satisfeita, porque não dizia aquilo que eu queria dizer. E era muito complicado atingir esse equilíbrio na altura porque tudo o que era demasiado eu sentia que me ostracizava, sentia que o resto da instrumentação me esmagava. Nunca consegui decidir e às tantas pensei que era melhor fazer guitarra e voz. Depois fiz o com a produção do Benjamim (que é um óptimo músico) e lembro-me de lhe dizer “não quero um disco coerente, todo igual, do princípio ao fim. Quero um disco eclético, como aquilo que eu oiço”. Isso saiu-me um bocadinho caro porque depois quando tu não tens um escape, não tens uma caixinha para enfiar aquilo que tu estás a fazer, é mais difícil de comunicar. E eu nunca me soube classificar nesse sentido, porque na verdade aquilo era tudo muito eclético. Depois fiz um disco mais recolhido que é o Casulo, e depois fiz o Quarto Crescente que é um disco bastante intenso e do qual me orgulho bastante, e quando fui fazer este disco quis fazer um disco que não fosse todo igual, que ia ter vários momentos (como aquilo que eu oiço!). Este é o mais parecido com o nesse sentido. Não ia decidir uma linha como no Quarto Crescente e no Casulo em que há uma linha no disco, a cor inteira é igual. Já no Vai e Vem, essa superação, essa determinação e essa resiliência é que são o fio condutor do disco. Mas em relação à sonoridade, a primeira canção é pop, a segunda tem um arranjo de cordas que faz lembrar o universo das novelas antigas brasileiras, a terceira é uma música super rock que me fez usar palheta em palco (que é uma coisa que eu não fazia). E eu gosto desses momentos, tenho uma costela de mim que gosta muito de música rock e gosta dessa emoção. Não há esse mandamento do que é que um disco deve ser.  Não, eu também me visto diferente todos os dias.

Falaste de alguns paralelismos do Vai e Vem com o . Chegaste ao final de um ciclo com estes quatro álbuns e vai-se iniciar algo novo?
És capaz de estar certo. Eu ainda não sei porque depois quando eu faço as canções eu faço uma de cada nação. Mas quando eu fui convidada para fazer essas canções do Zeca Afonso (que já foi depois do Vai e Vem) eu mandei-me para uma coisa ainda mais à frente do que eu tinha feito. Não era só decidir o que é que ficava mas criar tudo aquilo que eram arranjos. Já fui eu que fiz toda a produção e todos os arranjos daquilo, já não chamei nenhum músico. No EP não conseguia, por isso se olhares para trás, sim, foi este o grande caminho que eu fiz. Eu dantes só ouvia guitarra e voz, só ouvia Feist e só ouvia o que é que ela estava a cantar. Ao longo do tempo eu fui ouvindo todos os arranjos que estavam lá por trás, tudo o que faz com que aquela música tenha aquele ambiente. E esse é um crescimento musical que eu me orgulho e que agora quero tirar proveito. É natural que haja uma diferença agora, acho que o caminho se está a fazer. Às vezes eu sinto que nem decido, vai-se fazendo e eu deixo fluir. A construção desse beat, d’ “A Morte Saiu À Rua”. Aquela é das primeiras músicas que eu ouvi na minha infância, é uma música que representa o meu pai que era pintor e é uma música mesmo muito importante para mim. Então eu nunca quis dessacralizar aquela canção. Mas eu também quero fazer essa homenagem, porque é que eu não hei-de fazer essa coisa nova de ter elementos novos que não existiam nessa altura?

E tu vês-te a fazer isso para outros artistas no futuro?
Eu acho que era capaz.

Como referiste que eras um bocadinho “abelhuda”, achas que conseguias deixar que a visão do artista suplantasse essa tua vontade?
Eu acho que sim porque o que conta é aquela expressão criativa e acho que a pessoa que faz a canção e que a vai cantar – e não só, os intérpretes também – é que tem que ter bem noção em que universo é que está. Se tu vais interpretar a canção e sonhas que estás no meio do mar, não faz sentido nenhum estares a pôr sons de tijolos. O grande desafio é saber traduzir em som aquilo que tu imaginas e sentes cá dentro. Quando eu fazia documentário era traduzir em imagens e criar um discurso com montagem que fizesse isso. E com a pintura era traduzir em pintura o que eu imaginava cá dentro. O grande desafio é sempre tu conseguires expressar uma coisa que é única que só tu é que sentes, aquele sentimento, aquela maneira de ver as coisas. É expressar isso.

Fotografia de Pedro B. Maia / CCA

Achas que conseguias ajudar os artistas a chegarem a essa expressão?
Talvez, eu acho que isso é o passo à frente, estás-me a dar um passo maior que eu própria! [Risos] Para mim já é um passo muito bom esta nova etapa porque eu nunca produzi sozinha. E isso implicou passar muitas horas enfiadas no computador a estudar um software – vários… – para ver a qual é que eu me adaptava melhor. Já passei a outro nível, e esse nível já é muito bom, já me estás a pôr a produzir para outros! Eu gostava, há canções que eu às vezes oiço e fico “isto merecia aqui alguma coisa”, mas quem é que diz que eu é que estou certa?  Não é uma ambição pessoal, ainda. A minha ambição pessoal é eu conseguir a maior pureza possível naquilo que eu acho que são as minhas ideias. Porque elas vêm do mundo das ideias, o meu trabalho é ser a mediadora e concretizá-las. Portanto quanto mais instrumentos e ferramentas eu tiver para isso, mais pura a canção vai sair. É uma coisa um bocado espiritual. Há sempre uma hermenêutica num processo criativo. E isso transmite-se em som. São os detalhes que naturalmente pouca gente ouve mas que para mim são importantes, por isso é que eu estou lá na mistura. E neste disco [Vai e Vem] isso também aconteceu. Esse tipo de tradução daquilo que estás a imaginar, há várias maneiras de fazer. Na verdade é como cozinhar. Se queres aquilo um bocadinho mais acre se calhar tens de pôr mais um bocadinho de vinho, não é sal. São certos skills que vais ganhando, e estou a explorar essa parte, e vai demorar. É trabalhoso, ainda não cheguei lá. Mas “A Morte Saiu À Rua” foi a primeira música em que isso aconteceu, total produção minha. E o outro [“A Presença das Formigas”] também foi produção minha, só que falta-lhe os arranjos, porque é só vozes. Mas também tem que se lhe diga. Eu sempre fiz arranjos de vozes nas canções, os coros. E depois chegávamos ao estúdio e tentávamos repetir os arranjos de coros. E eu nunca ficava sossegada porque preferia aqueles que tinha feito em casa. Porque eu não conseguia fazer igual, há uma certa magia naquilo que te sai primeiro. Esses coros eram muito importantes para mim, e depois punhas o baixo, punhas o teclado, e as vozes ficavam lá em baixo. Às vezes até me dava vontade de fazer um outtake só de coros e voz principal. E foi o que eu fiz com essa música [A Presença das Formigas”]. Assumi isso e não ia pôr nada, ia fazer com a voz. E diverti-me imenso. É arriscares porque podem falar mal, podem dizer que não está bem. E se calhar no próximo disco arrisco ainda mais.

São temas soltos ou podemos esperar alguma surpresa para breve?
São temas soltos. Não sei se depois fará sentido incluí-los num disco ou não. Isso tenho de ver depois quando tiver o disco num todo. Hoje em dia nem sei se faz sentido fazer um disco…

Pegando nisso, a tendência para o digital e para o imediato a que assistimos hoje em dia mudou a forma como compõe as músicas ou como prepara o lançamento das mesmas?
Mudou a minha forma de consumir música, a verdade é essa. Eu não posso estar só concentrada aqui no meu lugar pretensiosamente a achar que como eu faço música, têm de ouvir discos. Eu também mudei como ouvinte, eu também oiço uma música de cada vez. Mas ouvi o álbum da Rosalía todo do princípio ao fim várias vezes, e do James Blake também. E do Leonard Cohen, este póstumo. Faz sentido um disco, arruma o teu conceito. E eu vim de Belas Artes com aquela formação de “as coisas têm de fazer sentido, há uma filosofia por trás das coisas”.  Duvido que me passe essa crença e essa credibilidade do disco. Eu tenho uma editora, uma agência, uma manager, toda essa equipa decide comigo a estratégia de lançar uma canção cá para fora. Não sou essa impulsiva de agora faz uma canção e lança. Se calhar um dia posso ser, não sei [risos]. Mas se sai uma música antes ou depois ou durante isso ainda não sei, tenho de primeiro ouvir o disco. Estou ansiosa para ouvir o meu próprio disco que ainda não existe [risos]. 

Fotografia de Pedro B. Maia / CCA

Vais estrear-te no Coliseu dos Recreios. O que é que podemos esperar deste concerto?
É um concerto que vai ser numa formação atípica. É um concerto 360 com o palco no meio das pessoas. Quando eu comecei tinha muito medo do palco, e ao longo destes dez anos de discos e de relação com o público eu fui perdendo esse medo porque as pessoas acabaram por me dar essa confiança. Ninguém aposta no teu fracasso, é uma coisa que eu digo numa música minha. Ninguém aposta no teu fracasso, também ninguém se abate se ele acontecer, ninguém vai morrer se tu falhares, não és a coisa mais importante do mundo. Só tens aquela missão de fazer a música. Eu tinha esse pudor de ir para palco e deixei de o ter porque queria muito sentir a parte boa de ir para palco. Para mim é um sítio maravilhoso, é um sítio de comunhão onde a partilha é máxima daquilo que tu já sentiste e puseste numa canção e que depois outra pessoa vai sentir. Há pessoas que choram nos meus concertos porque estão a sentir aquilo e depois dizem que não tinham maneira de dizer e que ainda bem que eu disse, é incrível. E foi por causa dessa sensação, dessa partilha, dessa identificação, dessa cura, que eu me agarrei tanto ao palco. E passou a ser um prazer enorme para mim, dar esse espaço, atingir essa transcendência. É quase como se eu devesse isso à música, a mim própria e ao público. Por isso essa é a nossa prioridade, ter essa proximidade com o público, é um concerto que vai dar primazia a isso. E como já fiz o Vai e Vem em Lisboa agora vamos fazer uma coisa mais abrangente. Há algumas surpresas no meio que não te vou revelar, vou-te só revelar que há surpresas… interactivas [risos]. E depois há ainda mais surpresas e termina. 

Então nesse sentido o palco 360 também é simbólico porque quando começaste tinhas um bocado medo de palco e agora já escolhes por tua iniciativa um palco que é no meio das pessoas.
Exacto. Foram elas que me trouxeram até aqui, não só ao ponto em que estou da minha vida profissional e da minha carreira – e que eu acho que é óptimo – mas também me trouxeram até aqui a este ponto de felicidade e de plenitude que é fazer o que eu gosto, ter um propósito para o fazer e ele retornar a mim (que é quando me escrevem mensagens). Com o público de facto é uma conversa, é uma troca e é mesmo o que me move. Acho que é a primeira vez na vida que eu não estou nada nervosa com um concerto e é o maior concerto que eu estou a fazer [risos]. Estou super entusiasmada, estou a sentir aquele carinho enorme de saber que vou ter a casa cheia. As pessoas estão-me a mandar mensagens há meses a dizer que vão, eu sinto que conheço as pessoas. E as que eu não conheço espero que venham também, para conhecer. Vai ser um concerto que vai ter esses momentos todos. Há momentos despidos, de proximidade da voz, e outros de expansão, com muito do universo pop e rock e indie folk. Vai haver espaço para festa e para recato.

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