Entrevista. João Almeida: “O Estado apenas deve intervir naquilo que a sociedade por si não consegue fazer ou não consegue fazer de forma suficiente”

por Os 230,    26 Outubro, 2020
Entrevista. João Almeida: “O Estado apenas deve intervir naquilo que a sociedade por si não consegue fazer ou não consegue fazer de forma suficiente”
João Almeida / DR
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Foi na Sala do Senado que decorreu a quinta entrevista do projeto “Os 230”, iniciativa cujo objetivo passa por entrevistar todos os deputados da Assembleia da República. Desta vez, foi João Almeida, do CDS-PP, a conversar com Francisco Cordeiro de Araújo, numa entrevista onde o deputado parlamentar dá a conhecer parte do seu passado, fazendo ainda uma breve explicação do partido a que se filiou. Entre os vários temas abordados, houve ainda tempo para, e como tem sido regra, um momento mais descontraído da entrevista, designado por “Verão Quente de 1975”.

Natural de Lisboa, mas com raízes familiares em Aveiro, João Almeida teve desde muito cedo a possibilidade de conhecer a capital e São João da Madeira. “Tive a vantagem de sempre ter sabido aquilo que é criar riqueza, trabalhar, subir na vida, algo que sempre vi muito em São João da Madeira e que é mais difícil de escrutinar em Lisboa”. 
Entre ser futebolista e deputado, a escolha de João Almeida é agora clara. Mas, quando era criança, não. “Nessa altura achava que era muito mais fácil ser jogador de futebol”, explicou. Foi aos 17 anos que se filiou na Juventude Popular, considerando que já foi uma idade tardia. As conversas com o pai, à esquerda do PS, resultavam em “debates animados”, contou na entrevista.

Anos depois mostra-se satisfeito com a escolha que fez, garantindo que “poder ter sido eleito para deputado e poder representar as pessoas é a concretização de algo que gostava de fazer e que me realiza muito”. Apesar de ter seguido o caminho da política, o deputado do CDS-PP considera que também nesta área existe um clubismo no que diz respeito ao eleitorado e não a nível dos dirigentes políticos. Por isso, afirma, “Portugal tem uma boa cultura democrática de relacionamento intrapartidário e isso é bom para a nossa democracia”.

É neste sentido que João Almeida deixa claro que as “competências técnicas, a capacidade de trabalho e o empenho não dependem da bancada em que cada um de nós se senta, mas sim de características pessoais”. Na entrevista dá exemplos concretos de pessoas que admira a nível profissional e que não são, precisamente, do seu partido.

E o que defende o CDS-PP? Na visão de João Almeida trata-se de um partido democrático, que defende a liberdade individual, ou seja, a pessoa no centro das políticas públicas, e a iniciativa privada e a subsidiariedade. Por isso, olha-se para o Estado como uma entidade importante, mas que “apenas deve intervir naquilo que a sociedade por si não consegue fazer ou não consegue fazer de forma suficiente”. É nesta linha de pensamento que o deputado deixa claro: “faz-me muita confusão debates entre a saúde pública e privada”. Eleito como deputado pela primeira vez em 2002, João Almeida explica parte do seu percurso na política e um dos seus pontos altos: aprovar pela primeira vez um relatório de uma comissão de inquérito sobre a banca por unanimidade. E é exatamente neste contexto que dá a conhecer a sua visão sobre a política: “devemos ver nos nossos mandatos uma oportunidade de acrescentar, mas não necessariamente em conflito”.

Da participação em comissões de inquérito até à Secretaria de Estado da Administração Interna, são vários os aspetos destacados pelo deputado do CDS-PP, nomeadamente o facto de ter sido Presidente do clube de futebol “Os Belenenses”. Licenciado em Direito e Mestre em Economia e Políticas Públicas, João Almeida explica ainda de que forma olha para as juventudes partidárias e dá a sua opinião sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo.
Questionado sobre o distanciamento dos cidadãos em relação aos seus representantes, João Almeida considera que “o que mais afasta as pessoas dos políticos é uma linguagem cifrada em que não se revêem ou que não conseguem atingir”. Por isso, garante, “o político não pode falar à político, mas sim de uma forma normal para que qualquer pessoa possa perceber a sua mensagem”.

No segundo momento da entrevista, João Almeida contou algumas curiosidades. Ficamos a saber que prefere cães a gatos e que não consegue escolher entre chá e café. Curiosa é a sua decisão entre futebol e hóquei em patins, acabando por escolher a segunda opção. No mundo da política, o deputado recusou escolher entre Donald Trump e Biden, mas noutros dilemas a decisão foi fácil.  
Numa entrevista onde afirmou que “mesmo na política o sentido de humor torna qualquer discussão mais agradável”, João Almeida considerou que hoje em dia há cada vez menos razão para a distância entre o cidadão e os seus representantes. “Todos podemos fazer mais”, afirmou.

O deputado do CDS-PP defende ainda uma reforma do sistema eleitoral e, na hora de resumir Portugal numa palavra, escolheu o “sonho”. Para finalizar, deixou uma mensagem aos portugueses, felicitando o projeto “Os 230” e fazendo um apelo aos cidadãos: “É fundamental apoiarmos estas iniciativas, mas também é importante que enquanto cidadão nos interessemos”. “A democracia merece maior dedicação, transparência, proximidade, mas também precisa de cidadãos mais participativos”, concluiu.

Artigo escrito por Ana Filipa Duarte, colaboradora do projeto “Os 230”.

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