Entrevista. Bejaflor: “O mais importante é aceitar tudo como uma possibilidade”

por Comunidade Cultura e Arte,    4 Abril, 2021
Entrevista. Bejaflor: “O mais importante é aceitar tudo como uma possibilidade”
Bejaflor / Fotografia de Henrique Carvalho
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José Mendes, mais conhecido por Bejaflor, é um jovem promissor da pop nacional. Detentor da Discos Volta e Meia, é ainda agenciado pela Maternidade Music. Em junho de 2018, com apenas 18 anos, lançou o seu primeiro álbum. Depois disso não parou de produzir e de colaborar com artistas como Luís Severo ou Chico da Tina. Mais recentemente, lançou o single “Feias”, tema escrito por si e baseado num fado de Alfredo Marceneiro.

De onde germina o tropicalismo presente no teu nome artístico e em alguns dos teus ritmos?
Inicialmente, o nome Bejaflor foi apenas escolhido por ser divertido e fácil de lembrar. Com o tempo, essa escolha foi fazendo cada vez mais sentido graças ao estilo de música que faço. Para além da pop, gosto de me inspirar em beats maioritariamente rítmicos, que se inserem no folk de culturas como a brasileira, a espanhola ou a africana. Uma parte importante da minha música acaba por resultar da fusão entre essas influências e a identidade cultural portuguesa. 

Quando partes para produzir há um esboço, uma ideia inicial ou és adepto de te entregar a uma praxis mais experimentalista?
Gosto de não ter um a forma de fazer as coisas, mesmo na vida, uma rotina faz-me sentir preso, portanto tento não ter um método. Às vezes surge primeiro a melodia ou o instrumental. Outras tantas, a letra sem melodia ou uma só palavra. O mais importante é aceitar tudo como uma possibilidade.

Bejaflor / Fotografia de Henrique Carvalho

Quais os autores que mais deram corpus ao teu imaginário, que mais te impulsionaram a eclodir?
Falando da minha primeira etapa na música, os autores que mais me inspiraram aquando da criação do meu primeiro álbum foram os The Beach Boys, o Fausto Bordalo Dias, e o próprio B Fachada. Com o tempo, passei a inspirar-me mais nas pessoas com quem trabalho. Na verdade, o que me dá mais alento é ver pessoas em meu redor entusiasmadas com o que fazem e eu poder ajudar amigos a concretizarem as suas ideias. Se falarmos num plano mais universal e contemporâneo, artistas como a Sophie, o A. G. Cook ou a Charli XCX são importantes porque, para além de se incorporarem na pop, vão ao encontro do meu interesse por beats experimentais e glitchados

De que modo é que o quadro geral do mundo influencia o que produzes? 
Influencia-me de um modo inconsciente, como a qualquer cidadão dotado de capacidade de absorção e análise. Ainda assim, tento não assumir qualquer papel ativista quando componho. Sinto que ainda não estou devidamente conectado ao mundo para o fazer.

Num plano mais específico, quando o primeiro confinamento surgiu, suspendi anteriores projetos e comecei a trabalhar em novos sons que senti que iam ao encontro da realidade alternativa que me encontrava a viver. Entretanto retomei os anteriores trabalhos. Foi difícil, mas é sempre bom mudar de ares. 

O que é que o ato de criação representa para ti?
Representa uma expressão pura de algo que existe dentro de mim que eu nem sei bem descrever. Por vezes, só me apercebo do significado de uma música muito tempo depois de a escrever.

Quem é José Mendes, o cidadão meta-artístico?
O José Mendes é um rapaz que gosta de abraçar vários projetos, mas que prefere não o fazer sob o mesmo nome. Prefiro distanciar a arte da minha pessoa, acho que tenho uma expressão mais livre, desbloqueada das minhas opiniões pessoais desse modo.

Há algum trabalho que te tenha dado uma satisfação particular de desenvolver ou que queiras por algum motivo abordar?
O que me tem dado mais satisfação é o disco que tenho vindo a fazer até agora; tem músicas da altura do meu primeiro EP e tantas outras que fiz, entretanto. Já lá vai algum tempo em que estou a trabalhar nele e, por vezes, torna-se mais difícil, mas sinto que é o que representará melhor o que gosto de fazer.

Quais os teus desígnios enquanto autor?
O meu principal objetivo é poder contribuir para uma modernização das sonoridades portuguesas. Quanto a mim, estamos de certo modo estagnados nos mesmos registos desde há muito tempo. Espero poder ter impacto suficiente para influenciar pessoas no nosso país a explorar novos registos e fazer evoluir as coisas nesse sentido.

Por onde andará Bejaflor nos próximos tempos?
Voando por aí, agora que chegou a primavera (risos). Tenho um novo álbum que está para breve; quando sairmos deste buraco negro em que nos encontramos, terão mais informações sobre isso. Entretanto, se passarem no Soundcloud ficarão a par de algumas coisas que tenho lançado e que vou fazendo à parte.

Entrevista de Augusto António Cabrita

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