Enérgico e emotivo: foi assim o regresso de Roger Waters a Portugal

por José Malta,    22 Maio, 2018
Enérgico e emotivo: foi assim o regresso de Roger Waters a Portugal
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Foram duas noites de Maio onde o clima primaveril se juntou à imensa energia de Roger Waters, em dois espectáculos emocionantes onde o seu reportório a solo e o reportório enquanto líder e membro dos Pink Floyd contagiaram um público preparado para um show que à partida seria grandioso. E assim o foi.

Depois da sua primeira passagem por Portugal no Rock in Rio Lisboa em 2006, e outra durante dois dias em Março de 2011 aquando da tour The Wall (uma das tours mundiais mais rentáveis de sempre), passados mais de sete anos Roger Waters regressou mais enérgico e emotivo do que nunca desta vez com a tour Us + Them, uma digressão que se iniciou na América e que regressou há poucos meses à Europa e que consiste num enorme espectáculo de rock, luz e animação que tem como principal alvo temas como a crise dos refugiados, o capitalismo selvagem, os contrastes sociais, a guerra que impera no nosso mundo e ascensão de líderes políticos alucinados como Donald Trump.

O seu álbum a solo lançado há um ano, Is This The Life We Really Want, foi o ponto de partida para esta digressão que, para além do conteúdo a solo, contém um vasto leque do trabalho dos Pink Floyd durante a liderança de Roger Waters, nomeadamente dos álbuns The Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here, Animals e, claro está, o álbum que tem a sua maior marca, The Wall. Em entrevistas anteriores, Roger Waters admitiu que esta pode muito bem ser a sua última tour mundial, o que deixa os fãs do seu trabalho enquanto músico, letrista e activista algo constrangidos, querendo aproveitar esta última oportunidade de ver uma das maiores referências do rock a nível mundial. O Altice Arena foi durante os dias 20 de 21 de Maio palco de um Roger Waters vivo, bem disposto, emotivo e com a energia de fazer inveja a muitos jovens músicos, mesmo estando a caminho de completar em Setembro deste ano uns fabulosos 75 anos.

Fotografia de José Malta

O espectáculo começou com o ilustre Breathe (In The Air), num concerto onde praticamente todas as canções do álbum The Dark Side Of The Moon foram tocadas, nomeadamente as canções Time, The Great Gig In The Sky, Money, Us and Them, Brain Damage e Eclipse, seguindo-se de One Of These Days, uma faixa do álbum Meddle dos Pink Floyd onde o baixo de Roger Waters tem uma das suas maiores performances. As faixas do seu novo álbum também não faltaram: Deja Vù, The Last Refugee, Picture That e The Smell The Roses foram exibidas pela primeira vez ao público português e recebidas com a maior das ovações. Uma enorme fábrica tomou conta do espectáculo durante as faixas Dogs, com frases fortes a surgirem ao longo da canção, e ainda Pigs (The Three Different Ones), mostrando caricaturas de Donald Trump juntamente com as suas frases épicas enquanto que um porco insuflável, que exibia a inscrição “Mantém-te Humano”, sobrevoava sobre a plateia que se deslumbrava com este elemento que fora introduzido nos concertos dos Pink Floyd na década de 70, após o lançamento do álbum Animals. Do álbum Wish You Were Here surgiram também a canção intitulada com o mesmo nome, uma balada que colocou o público inteiro a acompanhá-la com a sua voz (mesmo que desafinada) e ainda Welcome to The Machine.

Fotografia de José Malta

O mítico The Wall também marcou presença, em especial com The Happiest Day of Our Lives seguindo-se de seguida Another Brick In The Wall pt. 2 and pt. 3, onde crianças portuguesas marcaram presença em palco durante a execução destas canções. O encore final foi composto por canções diferentes nos dois dias. Enquanto que no primeiro Roger Waters exibiu as canções Wait for Her, Oceans Apart e Part of Me Died do seu novo álbum, no segundo dia foi exibida a canção Mother do álbum The Wall. Por fim, o espectáculo foi encerrado pela mítica Comfortably Numb, canção também presente em The Wall e que exibe um dos solos de guitarra mais sublimes, em dois dias esplêndidos onde o público português esteve à altura de um Roger Waters, actual, dinâmico, sempre crítico em relação aos grandes problemas da actualidade mas mostrando-se cada vez mais afável tendo feito um apelo inclusive ao público para que aquele espectáculo a que estavam a assistir fosse também uma forma de partilharem o amor pelo próximo, de maneira a evitar ao máximo o de que pior há no mundo desfrutando assim das melhores coisas que temos na vida.

Os dias 20 e 21 de Maio de 2018 ficarão para sempre na memória daqueles que assistiram a um espectáculo musical, lírico e dinâmico de uma das maiores lendas do Rock a nível mundial assim como também ficará, certamente, na memória de Roger Waters que tem vindo a receber um carinho especial pelo público português sempre que as suas digressões agendam datas em Portugal, pois tendem a esgotar muito rapidamente. A caminho de completar uns respeitáveis e belos três quartos de século de vida, Waters poderá manter o seu futuro quanto a futuras digressões em aberto… ou talvez não. É certo é que daqui por trinta, quarenta ou cinquenta anos, as suas canções bem como o rock dos Pink Floyd continuarão a ser amados e ouvidos como se tivessem sido ouvidos e exibidos pela primeira vez ainda ontem, onde certamente continuarão a haver relatos daqueles que viram os concertos do tal velhote roqueiro e bem-disposto que, apesar de nunca ter conhecido o pai que morreu em combate na segunda grande guerra, mantinha uma energia positiva incansável, lutando sempre pelas questões humanitárias e sociais, pela libertação de povos oprimidos e pela paz num mundo que não seria o mesmo sem as letras, o rock e o carisma de Roger Waters.

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