Eleições: um guia (muito pouco) prático

por Rui Cruz,    15 Setembro, 2019
Eleições: um guia (muito pouco) prático
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Rui Cruz é humorista, stand up comedian e um génio (palavras dele). Escreve coisas que vê e sente e tenta com isso cultivar o pedantismo intelectual que é tão bem visto na comunidade artística.

Bom, parece que vêm aí eleições e que é de bom tom falar disso para aparentar ser uma pessoa informada e com opiniões, não é? Vamos a isso, então. Antes de mais, confesso que ainda não li nenhum programa nem vi nenhum debate. Não estou orgulhoso disso, atenção! Estou simplesmente a dizer a verdade, coisa rara quando o assunto é política, eu sei. Não vi/li porque ainda não tive tempo e, sinceramente, vontade. Pela primeira vez, desde que me conheço como jovem (deixem-me! 99% dos meus pêlos púbicos ainda são pretos!) adulto, não sinto qualquer vontade de seguir a campanha. Não há um partido que me represente, não há um candidato que me desperte simpatia e nenhum que me desperte ódio, logo… está chato isto. Mas, tal como todos os comentadores e cronistas da nossa praça, não vai ser a minha ignorância sobre um assunto que me vai me impedir de tecer opiniões pouco informadas e tendenciosas sobre o mesmo e ficar enxofrado se estas forem contrariadas com factos. Por isso, aqui fica um guia dos partidos para as legislativas:

PS: Em principio o futuro vencedor das eleições. Justo? Ninguém sabe bem. Quem quer elogiar o seu trabalho nos últimos 4 anos não consegue enumerar três medidas deste executivo de cabeça, quem o quer criticar não consegue fazê-lo sem parecer um queixinhas ressabiado. É que, na verdade, estes últimos 4 anos de política passaram-nos um bocado ao lado. Mérito total de António Costa que, com aquele ar bonacheirão de gajo que não se importa de ir à baliza, nos desvia a atenção de pormenores e nos brinda com aquele sorriso permanente de quem sabe que no final vai tudo correr bem. Especialmente para todos os que tenham cartão de militante do PS. E para a família de quem tem cartão de militante do PS. A grande dúvida em relação ao PS nesta eleição é saber se vai ganhar com maioria absoluta, podendo comportar-se como o partido playboy que tanto gosta de ser, a estoirar o dinheiro de família (sendo a família a nossa) e a ter dates com quem lhe apetecer (sejam destros ou canhotos os parceiros) ou se vai ganhar com maioria relativa e ter de casar por interesse outra vez. Seja qual for o resultado, podemos ter a certeza de que nos esperam mais quatro anos de aparente bonomia e também mais quatro anos de pequenos escândalos aos quais ninguém vai ligar muito porque já há crédito para ir de férias e porque… Benfica, famoso morto ou doente, alguém disse alguma coisa na internet ou reality show onde alguém quer casar com dois gémeos siameses leprosos.

PSD: Bom, acho que neste altura falar de partido quando se fala de PSD é um eufemismo, peca por escasso. É que partidas estão as porcelanas de minha casa desde aquele dia em que cheguei bêbedo, o PSD está desfeito. Passos fez ao PSD o mesmo que aquele eucalipto fez ao meu jardim. Secou tudo à sua volta. Neste momento ver o PSD em eleições é quase a mesma coisa que assistir a porno com MILFS: vê-se que têm experiência, ainda ensinam um truques, mas no final acabam na mesma a limpar os olhos com um lenço. A diferença é que no caso do PSD limpam lágrimas. Rui Rio assumiu o comando do barco, mas este tem mais ratos do que a casa que tive em Alfama e parece-me que o objectivo da maioria deles é mesmo passar peste negra ao capitão. Os membros do partido dizem que o seu objectivo é formar governo depois destas eleições, mas o mais certo é acabarem numa casa do Sporting a criticar os árbitros e a dizerem que também têm mais quatros títulos de mandato que lhe foram roubados.

CDS: Depois da derrota estrondosa nas últimas eleições, o CDS está de volta para nos fazer rir mais uma vez. Cristas é uma líder nata, não no sentido de ter capacidade de liderança, mas sim no sentido de ficar bem queimada, principalmente quando fala. Nas questões sociais, o CDS continua a ser o que sempre foi: uma tia viúva de Cancelos de Baixo que se ajoelha em milho seco para expiar o pecado de estar apaixonada pelo padre. Já no que toca a economia, não sei. Não vi. Mas também não é preciso porque a terem a mesma votação que tiveram nas Europeias ainda vão ser mais poupados do que o seu líder espiritual, o senhor António, já que os deputados vão caber todos num Smart.

BE: O “B” teoricamente é de Bloco, mas, desde que as manas Mortágua se tornaram um caso de sucesso, parece que o “B” vem de Brunização, que é o que está a acontecer aqui, uma Brunização Carvalhesca do partido. Na verdade, isto não é novo no BE, que já teve uma direcção bicéfala no pós-Louçã, a diferença é que a Catarina Martins ainda tinha poder nessa altura. A bem da verdade, já votei mais do que uma vez neste partido, mas hoje tenho algumas dúvidas. Principalmente porque me chateia isto do partido andar há anos a defender a legalização das drogas leves e ainda ter de ligar a um dealer sempre que quero ver o Pineapple Express. Isso e o Robles ter fechado o café onde ia beber bagaço em Alfama só porque queria ter um prédio da cor dos seus olhos. O mais certo é acabarem com uma votação porreira e andarem mais quatro anos com o Costa num daqueles namoros envergonhados, em que dentro de casa rola tudo, incluindo rabo e juras de amor, mas em público nem as mãos dão porque as pessoas podem falar.

PCP: Ainda existem, juro! Vão mais uma vez a eleições para manter a tradição, coisa muito importante quando se vive numa monarquia. Segundo consta, a Dinastia Jeronimiana está a chegar ao fim e especula-se quem será o novo monarca. Estas eleições marcarão então, alegadamente, a transição de regime e isso é mais cativante do que qualquer proposta do partido. Até porque as propostas do PCP costumam ser como as novelas portuguesas: sempre iguais, com expressões que o cidadão comum não usa e fazem muito sucesso entre os avós. Estou a brincar! Na verdade até simpatizo com o PCP, afinal são o partido mais parecido comigo: reclamam do sistema, mas aproveitam-se dele.

PAN: O partido em que o pessoal que não sabe em quem votar vota. Conseguiu convencer a malta que votar neles é uma coisa moralmente correcta, apesar de 90% dos seus votantes não fazerem a mínima ideia do que defende o partido e acabarem por dizer sempre que “voto no PAN por causa do no meu Bolinhas. É tão esperto, o meu Bolinhas. Anda cá ao dono, Bolinhas! Faz uma gracinha, Bolinhas”, que é mais ou menos o que o pessoal do PAN diz aos e dos seus eleitores. Esperam-nos mais 4 anos de PAN no parlamento e a certeza de que o partido vai crescer, pelo menos até ter poder suficiente para impor beringela como substituto do bacalhau nos pratos típicos nacionais e perder quase todos os votos numa semana.

PNR: o partido que não é um sketch, mas podia e devia ser. Não há muito a dizer de um partido nacionalista e anti-migrações que é liderado por ex-emigrante que hoje em dia tem mais apoiantes no Brasil do que em Portugal. Melhor só mesmo as manifestações deste pessoal que conseguem ter menos gente do que um Leiria-Belenenses para a Taça da Liga marcado para as 2 da manhã. Ah! E são homofóbicos, também. Surpresa!

LIVRE: O partido que leva uma candidata mulher, afro-descendente e gaga e que tem o hino de campanha escrito pelo projecto Fado Bicha. O que é que precisam de saber sobre eles? Que o partido leva uma candidata mulher, afro-descendente e gaga e que tem o hino de campanha escrito pelo projecto Fado Bicha. Ah! E não sei já vos disse que o LIVRE é aquele partido que leva uma candidata mulher, afro-descendente e gaga e que tem o hino de campanha escrito pelo projecto Fado Bicha. Se não tinha dito, não se preocupem que vão acabar por ouvi-lo, até porque eles não se calam com isso.

IL: As estrelas do twitter liberal. São os reis dos memes e, a fazer fé nas sondagens que alguém, muito convenientemente, falsificou, serão a nova força política de direita. Não é que duvide, até porque a direita está com a força do elástico de uns boxers de feira depois da 10ª lavagem, mas se o que se diz no twitter tivesse alguma força no mundo real, o Jardim da Estrela tinha mais cadáveres do que as valas comuns da Polónia e o pessoal da IL não metia os pés num hospital público, principalmente para curar as feridas de uma derrota incrível nas eleições. São os discípulos do Passos, mas com acesso a internet, coisa que não teriam caso ele continuasse a governar tão bem. Dizem que por cada cabelo que o Passos perde, nasce um militante da IL. A nossa sorte é que o homem está quase careca.

Chega: E…. ya. É isso. Nem vale a pena, chega.

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