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Ece Canlı funde a sua voz e a Natureza em música experimental

por Bernardo Crastes
3 Dezembro, 2020
em Críticas, Música
Ece Canlı funde a sua voz e a Natureza em música experimental

Capa do disco. Artwork de Ana Torrie

A Natureza é a origem, e Ece Canlı sabe isso. Recebe-nos no seu primeiro disco a solo, Vox Flora, Vox Fauna, através de sons primordiais: ecos de grilos, pássaros e o vento, que se unem sem esforço a uma plácida flauta, sininhos e outros calorosos sons crepitantes, produzidos de forma a soarem próximos: “O'” é um exercício tranquilo, quase como se precedesse uma sessão de meditação. Há uma ancestralidade na sua sonoridade que transmite paz e equilíbrio, como na origem da humanidade, em que a Natureza era fonte e deusa. No entanto, Vox Flora, Vox Fauna não pretende emular apenas o bom da relação entre o ser humano e o mundo que o rodeia. Aliás, quanto mais a voz, o corpo e os produtos humanos se imiscuem na paisagem, maior o caos.

A voz de Ece, cristalina e corpulenta, toma o papel principal logo nos primeiros segundos de “Su-ma”. Surge de mansinho como um riacho, mas depressa se alarga no seu leito. O eco dá-lhe uma presença espectral, noção essa fortalecida pela sobreposição de camadas vocais que geram um coro místico, sobre o qual a artista turca, radicada no Porto, nos canta palavras de significado oculto, mas não menos ressonantes por isso. A intensidade sempre crescente desemboca em jogos vocais cuja magia não quero reduzir com descrições objectivas. Apenas digo que, no estado de espírito certo, “Su-ma” toma-nos de surpresa.

Fotografia de Renato Cruz Santos

À harmonia da voz da artista, “Animancia” — o primeiro single do álbum — e “Simurg Fall” adicionam uma componente mais corpórea. A primeira com inspirações e expirações ansiosas que servem de ritmo para uma canção mais negra e até um pouco perturbadora; a segunda com enrodilhados de notas agudas quase sobrehumanas, num surrealismo desconcertante. Estas performances vocais extremamente físicas lembram-nos as explorações sonoras de Meredith Monk, enquanto que o timbre encorpado das longas notas sustidas evoca a grandiosidade de Lisa Gerrard. “Animancia” encontra-se acompanhada de um videoclipe, que espelha bem o nervosismo dos seus arranjos, com os seus planos rápidos e pouco estáveis que contribuem para o ambiente misterioso que a música conjura.

A partir daí, as coisas pendem mesmo para o lado da escuridão. “Old Road God” é trespassada por um discurso em inglês, ao qual se sobrepõe a voz da artista, processada para a fazer vibrar num mantra arrepiante, mas não especialmente tocante. “Umayuma” expande a paleta sonora para o campo da música extrema, com os seus sintetizadores ruidosos e fragmentos sonoros demoníacos, num crescendo industrial bastante distante da Natureza que nos acolheu no início. Por si só, seria absolutamente devastadora, mas, no seguimento das canções anteriores, nem sempre funciona. Sente-se que, apesar da intensidade deste segmento, estas faixas acabam por não atingir os efeitos conseguidos pela primeira metade.

No entanto, o final traz algo mais curativo. “Sopromago” revisita a flauta pacificadora do início num número mais extenso e tribal, preparando-nos para a transcendência de “The Pulse of Passage”, um sonho molhado de música progressiva. Vozes bestiais dão lugar a sintetizadores góticos que cristalizam um som muito característico — uma espécie de banda sonora de documentários dos anos 80 — do melhor modo possível. A meio da escalada da troca de argumentos entre animal (vozes) e artificial (sintetizadores), surge a batida unificadora que tão expertamente fecha este disco místico e fora de tempo, numa altura em que o próprio conceito de tempo se encontra especialmente distorcido.

A exploração da proximidade da humanidade com a Natureza terá sido influência da residência artística de Ece em Alpendurada, que deu origem a estas oito canções desafiantes e que cruzam influências distintíssimas. Não terão sido muitos os discos lançados este ano que criam um universo tão próprio e bem formado como este Vox Flora, Vox Fauna, o que é especialmente impressionante considerando que se trata da estreia de Ece Canlı. A experimentação com a Natureza e os limites da performance vocal dificilmente terá soado tão envolvente e apelativa como neste disco.

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Tags: Ece CanlıLovers & Lollypopsmúsica experimentalMúsica Nacionalmúsica portuguesa

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