E depois de ‘Wizard Bloody Wizard’, dos Electric Wizard, haverá vida no inferno?

por João Horta,    19 Novembro, 2017
E depois de ‘Wizard Bloody Wizard’, dos Electric Wizard, haverá vida no inferno?
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Após terem anunciado o final da carreira, os Black Sabbath deixaram a magia negra do rock entregue ao seu próprio destino. Para muitos fãs, a sucessão seria óbvia, se olharmos para o estatuto e carreira dos Electric Wizard. As semelhanças não ficam apenas pela partilha de nacionalidade, mas porque as influências dos Sabbath nos Electric Wizad são claramente inevitáveis; ora seja pela proximidade sonora, ora pelo conteúdo lírico extremamente ligado ao oculto e satanismo.

Wizard Bloody Wizard pode querer dar-nos muitas pistas: será que os Electric Wizard estão a assumir a passagem do testemunho? Uma vez que, Sabbath Bloody Sabbath é um disco incontornável, na carreira dos Black Sabbath, contudo, fundamental para a vida do rock e derivados. O recente trabalho dos Electric Wizard até pode ser interpretado como uma homenagem – pouco criativa – aos seus antecessores. A falta de criatividade, não se fica só pelo óbvio, para além do título, também a sonoridade se descaracteriza e surge um pouco ao lado daquilo que os Electric Wizard nos habituaram.

O single “See You In Hell” anunciou, desde logo, que este disco não invoca a sujidade do passado, muitas vezes representada nos riffs de Jus Oborn e Liz Buckingham. Neste álbum perderam-se as vozes distantes, evocadoras de demónios, perderam-se guitarras conspurcadas e nada se acrescentou à receita da banda. “Necromania” e “Wicked Caresses” são recuperações do passado, acordes reciclados e riffs ressuscitados. Dentro de Wizard Bloody Wizard cabem Dopethrone (2000) e Come My Fanatics (1994), mas sem recurso aos mesmos – ou a tantos – pedais de efeitos.

Quando tinham tudo para dar, os Electric Wizard desvanecem com alguma facilidade, apresentam um disco sem alma e pouco inovador. O doom e o stoner rock sobrevivem porque as secções rítmicas não os deixam morrer, e isso está bem implícito em “Mourning of the Magicians”. No entanto, o álbum faz renascer um género arcaico, onde o hard rock passeia fantasmagórico, ao longo das seis faixas.

Um disco que começa vazio, mas nunca chega a encher-se. Subsistem dois temas (“Necromania” e “Mourning of the Magicians”) interessantes, que ainda assim, não são suficientes para preencher a totalidade do álbum.

Se isto é uma homenagem aos Black Sabbath fica aquém das expectativas. Se a intenção era prosseguir o legado deixado pela banda de Ozzy Osbourne, também ficou aquém das expectativas. Não sabemos, ao certo, mas tudo indica que, ficou muita erva por queimar durante a produção de Wizard Bloody Wizard. Aguardamos pelo próximo, na esperança que este tenha sido uma mera transladação para o inferno.

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