Cientistas propõem roteiro global com medidas para mitigar declínio da abundância de insectos

por Comunidade Cultura e Arte,    6 Janeiro, 2020
Cientistas propõem roteiro global com medidas para mitigar declínio da abundância de insectos
Gorgulho, espécie endémica dos Açores que se encontra em perigo / Fotografia de Paulo Borges
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Num estudo hoje publicado na revista Nature Ecology and Evolution, uma equipa internacional de cientistas propõe um roteiro de medidas imediatas, a médio e longo prazo para responder ao declínio da abundância dos insectos.

Diversos estudos científicos têm demonstrado que a abundância e a diversidade de insectos está a reduzir drasticamente a nível mundial. Este declínio tem origem na acção humana – causadora da perda e fragmentação de habitats, da introdução de espécies invasoras e das alterações climáticas, entre outros – e constitui uma séria ameaça que a humanidade deve enfrentar com urgência.

Face à urgência em tomar medidas, uma equipa internacional de investigadores, da qual fazem parte Paulo Borges e António Onofre Soares do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Universidade dos Açores, apela aos governos de cada país para a implementação imediata de várias medidas no sentido de travar o declínio de insectos. Reduzir de forma imediata e significativa a emissão de gases com efeitos de estufa, eliminar gradualmente o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos substituindo-os por medidas ecológicas, e reduzir a poluição luminosa e sonora são algumas das recomendações.

Torna-se urgente manter a diversidade da paisagem, construir corredores ecológicos e evitar a proliferação de espécies invasoras que alteram os habitats. Com as alterações climáticas também é necessário redesenhar muitas áreas protegidas. Finalmente, é necessário manter a monitorização da abundância e diversidade dos insectos nas áreas naturais e nos ecossistemas agrícolas e florestais”, explica Paulo Borges.

Estas medidas surgem integradas num roteiro que propõem também medidas a médio e longo prazo. Entre estas medidas estão a aposta em mais investigação para compreender qual a contribuição de diferentes factores de origem humana no declínio de insectos; a análise dos dados já existentes em colecções de insectos particulares e de museus e universidades; e, a longo prazo, o lançamento de parcerias público-privadas e iniciativas de financiamento sustentável com o objectivo de restaurar, proteger e criar novos habitats vitais para os insectos.

É preciso agir já. As evidências que já existem sobre algumas das principais causas do declínio de insectos são suficientes para nos permitir formular medidas imediatas. E os resultados da investigação que continua a ser desenvolvida, sobre espécies e regiões menos conhecidas, vai permitir modificar e melhorar as medidas já implementadas se necessário. Mas é fundamental agir já, caso contrário pode tornar-se demasiado tarde”, conclui Paulo Borges.

Este estudo é coordenado por Jeffrey Harvey, investigador do Instituto Holandês de Ecologia, envolvendo uma equipa internacional de mais de 70 investigadores.

Tradução para português da Figura 1 do artigo científico

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