‘CHUCK’: o último grito do gigante do Rock n’ Roll

por José Malta,    12 Junho, 2017
‘CHUCK’: o último grito do gigante do Rock n’ Roll
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Chuck Berry, pioneiro do rock n’ roll e um dos maiores guitarristas de sempre, partiu no dia 18 de Março deste ano com 90 anos recheados de músicas, canções, álbuns e concertos memoráveis, deixando-nos ainda um último tesouro a ser adicionado ao seu legado musical. O álbum, cujo título é o primeiro nome do músico em letras maiúsculas, CHUCK, apresenta uma sequência de canções cheias de alma e de musicalidade, deste que é um gigante do Rock n’ Roll.

38 anos depois do último álbum, Rock It em 1979, chega o trabalho que Chuck Berry tanto ambicionaria em lançar mas que a finitude da vida ditou que fosse póstumo. Canções como Maybellene, Roll Over Beethoven, Rock and Roll Music ou o ilustre Johnny B. Goode seriam o bastante para tornar Chuck Berry numa figura lendária da música do século XX. No entanto o céu é o limite, e qualquer músico tende sempre a não parar como é o caso de Chuck Berry que actuou quase até não poder mais. Gravado entre 1991 e 2014 e o seu lançamento anunciado no dia do seu nonagésimo aniversário, em Outubro de 2016, CHUCK é um álbum que se apresenta todo ele em maiúsculo: o título, a capa, o intérprete, a qualidade das canções que o compõem, todos estes elementos fazem do álbum uma obra-prima do mestre Chuck, contando com o facto de ser a última de todas que a torna ainda mais especial. Apesar de ser constituído apenas por 10 canções e uma duração total de 34 minutos, este é um álbum que mostra que, apesar da sua partida, as suas canções serão para sempre eternas e o estilo de Chuck Berry estará sempre vivo, continuando a influenciar os músicos de hoje e os que ainda virão a aparecer no futuro.

O álbum começa com Wonderful Woman, uma canção em que qualquer amante do rock n’ roll reconhece a voz de Chuck logo no ínicio bem como a harmónica e o piano a acompanharem os acordes e os riffs de guitarra sempre presentes nas suas canções. Segue-se Big Boys que apresenta um ritmo mais rock n’ roll, mais acelerado, com coros que acompanham o músico proclamando “yes, yes, yes” ao longo das cordas e do piano que emergem entre os cânticos, contando ainda com um solo de guitarra sublime no final. Em ritmo mais pausado, na terceira faixa do álbum, You Go To My Head, encontra-se presente uma voz feminina que acompanha a interpretação de Chuck Berry ao ritmo do piano. A quarta faixa, que pelos aplausos iniciais e finais dá a noção de que fora gravada ao vivo, 3/4 Time (Enchiladas), apresenta um compasso semelhante a uma valsa como se de um baile se tratasse, onde Chuck chega mesmo a interagir com o público que assiste. Darlin’, canção que se segue, apresenta um tom suave e calmo à semelhança de You Go To My Head com os coros femininos sempre presentes.

Se Johnny B. Goode foi o rapaz que ajudou a tornar Chuck Berry numa lenda musical, certamente que teria que haver uma entidade feminina a torná-lo musicalmente imortal. Lady B. Goode, sexta faixa do álbum que se assemelha à canção que o popularizou e que o tornou num dos maiores ícones do rock n’ roll, dá alma ao último grito de uma das maiores lendas de sempre da música contemporânea. O riff e o solo de guitarra facilmente remetem para o estilo enérgico e clássico de Chuck Berry, mostrando a sua musicalidade única nesta tão ilustre canção. Segue-se, She Still Loves You, que se torna mais pausada, embora sempre desperta com as combinações de guitarra e piano que se difundem durante a canção.

Jamaica Moon, oitava faixa, apresenta um ritmo mais tropical com instrumentos que remetem para uma melodia mais exótica, semelhante aos ritmos provenientes da Jamaica como a música faz referência. O ritmo da guitarra e da percursão tornam esta numa canção em que Chuck Berry facilmente se consegue transpor a outras tendências musicais sem perder a sua identidade e o seu estilo enquanto músico. Depois dos ritmos jamaicanos segue-se Ducthman, uma canção onde Chuck declama a letra ao ritmo soft das cordas e da percussão como se de uma canção terminando com a frase “Dutch Man, you promise me a drink”, como se de uma conversa se tratasse acompanhada pelo ritmo incansável dos instrumentos. Por fim, o álbum termina com os olhos de um simples homem que tinha prazer em tocar e em tornar a adocicar as canções através do seu estilo afável. Eyes Of A Man, de seu nome é mais uma canção “à Chuck”, que mostra o seu estilo único que o consegue diferenciar dos músicos de hoje e também dos músicos que existiam aquando o seu período de afirmação.

Chuck Berry não poderia ter melhor despedida com este álbum que, embora curto, mostra a energia, o entusiasmo e a musicalidade de um dos mais brilhantes intérpretes de sempre. Pela qualidade exibida no álbum, valeu a pena esperar 38 anos por este trabalho, que demorou mais de duas décadas a ser preparado e que apresenta uma qualidade enorme que não poupa elogios da crítica e dos amantes da música. O jovem músico que começou a tocar na década de 50 do século XXI e que partiu na segunda década do século XXI, deixou-nos um dos mais belos legados musicais que alguém poderia deixar-nos. A sua música ficará para sempre no ouvido daqueles que testemunharam a ascensão do músico bem como aqueles que se apaixonaram pela sua energia, virtuosidade e alma ao interpretar as suas canções. Mais do que a sua música presente na playlist de qualquer amante do rock ou da música em si, CHUCK (em letras bem maiúsculas como o talento de Chuck) é um álbum que prova que, acima de tudo, a alma de Chuck Berry ficará para sempre gravada nos nossos corações.

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