Best Youth: “Nunca compusemos músicas em português, mas há-de acontecer e queremos esse desafio”

por Linda Formiga,    15 Outubro, 2018
Best Youth: “Nunca compusemos músicas em português, mas há-de acontecer e queremos esse desafio”
Best Youth / Fotografia de Aloísio Brito
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Os Best Youth povoam, desde há muito, as frequências radiofónicas portuguesas. Embora tenham acabado de lançar o segundo álbum de originais Cherry Domino, as músicas intemporais do EP e do primeiro LP, Highway Moon, têm estado constantemente presentes nas playlists do melhor que tem sido conceptualizado, produzido e interpretado em Portugal. A química entre Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas é sentida nos trabalhos de estúdio e em palco e é parte fulcral do sucesso que os Best Youth, meritoriamente, gozam em Portugal e no estrangeiro.

Cherry Domino chegou-nos às plataformas de streaming a meio do mês de Julho e veio confirmar a capacidade criativa dos Best Youth, numa reinvenção de sons e de influências que culminou numa sonoridade etérea e que nos faz viajar para uma década de 80 recriada e reimaginada pelo duo portuense. O segundo álbum de originais dos Best Youth conta com a participação de Moullinex em ‘Part of the Noise’ e de Patrick Wimberly em ‘Nightfalls’ e pode ser ouvido um pouco por todo o lado.

Os Best Youth estiveram à conversa connosco em Lisboa, para falarmos sobre o Porto, sobre a identidade do Porto, sobre a globalização da música, sobre como a simplicidade dos grandes artistas os ajudou neste segundo trabalho de originais e sobre os próximos concertos, pela primeira vez com 5 elementos, que prometem encantar os palcos por este mundo fora, começando já no próximo dia 19 de Outubro, no Estúdio Time Out em Lisboa e no dia 25 de Outubro na Casa da Música – Sala 2.

O vosso segundo álbum saiu há muito pouco tempo. Como tem sido recebido?
Ed: O álbum saiu há muito pouco tempo e nós decidimos fazer um lançamento faseado. Nós podíamos ter lançado o álbum só depois do Verão, juntamente com a edição física e juntamente com os concertos de apresentação que vão ocorrer agora em Outubro, mas nós já tínhamos o disco pronto, por isso pensámos “vamos lançar já o disco, as pessoas vão ouvindo em digital, nós queremos é avançar com coisas e depois vai sendo um lançamento faseado”. E fazer isso teve um impacto engraçado, porque ao mesmo tempo que não focámos a experiência de promoção toda directamente cá em Portugal, até porque não tocámos durante o Verão, só estamos a começar a nossa tournée oficial mais ou menos agora, deu uma oportunidade ao álbum de entrar mais pelos outros países, por exemplo, tivemos experiências engraçadíssimas, porque o nosso álbum foi parar directamente a um top do iTunes na China, fomos parar a um top europeu de um país do Leste que já não me lembro exactamente qual era e temos tido feedback e comentários desses cantos que não estávamos tão directamente a contar. Por isso, até agora, mesmo cá o feedback tem sido muito bom também, tendo em conta que ainda não começámos oficialmente a trabalhar mesmo o disco, mas até agora tem sido muito bom.

Já tocaram em vários locais no estrangeiro, já correram quase todos os palcos nacionais. No que é que Cherry Domino difere do primeiro álbum, em termos de sonoridade?
Catarina: Enquanto o Highway Moon foi gravado por uma banda, pensado e conceptualizado com uma banda em mente, o Cherry Domino foi precisamente pela premissa contrária, ou seja, a banda somos nós os dois, nem sempre temos a possibilidade de tocar com banda, por isso vamos partir do individual em vez do geral. Portanto, o Cherry Domino partiu da ideia de usarmos sons electrónicos e cimentou-se, como há pouco o Ed estava a falar, cimentou-se com o tributo que nós fizemos ao Prince, a convite do Moullinex, onde começámos a ouvir mais as músicas do Prince e a investigar mais, e descobrimos que o Prince na altura, para além de outros artistas da altura como o Michael Jackson, como os AHA, usavam uma Linn Drum, que é uma drum machine, então o álbum partiu da ideia de usar uma Linn Drum, ou seja, em relação ao Highway Moon, é uma coisa muito, muito diferente.

Ed: A premissa base com que começámos a banda é muito diferente do que é agora. Inicialmente, no primeiro EP, eu convidei a Catarina para gravar umas músicas no que seria um EP meu a solo…

Catarina: Isto está constantemente a evoluir (risos)

Ed: E, nós já contámos esta história muitas vezes, que foi imediatamente depois de ela cantar a primeira música para a qual a convidei, percebemos os dois, porque já tínhamos estado numa banda juntos, que havia ali uma química musical que já tinha sido trabalhada durante bastante tempo e que foi um clique instantâneo, e começámos a trabalhar. Nesse primeiro EP, eram músicas que eu não tinha bem noção sobre o que ia fazer com elas e quando foi lançado, surgiram imediatamente convites para tocar ao vivo. Nós fomos uma banda que começou a tocar ao vivo sem reportório, sem fazemos a mínima ideia como é que íamos tocar ao vivo e o que íamos fazer, fomos um bocado atirados aos leões, atirámo-nos nós próprios aos leões, sem rede, um bocado à confiança. E desde aí, como esse processo foi um bocado espontâneo, temos vindo a fazer ajustes e correções de curso porque a banda são duas pessoas, e a música que fazemos é muito difícil de ser tocada só por duas pessoas, por isso, como a Catarina disse, no primeiro disco, o Highway Moon, depois dessa aventura toda do EP, a solução natural foi “Ok, queremos tocar músicas com estes instrumentos todos, temos de ter uma banda a tocá-las”. Tivemos essa banda e demos muitos concertos com a banda, só que infelizmente a realidade é que, por exemplo, para irmos ao estrangeiro tocar e mesmo em alguns concertos cá em Portugal, não conseguem ter as condições para nós temos o espectáculo completo que gostamos, nós sentimos muito essa prisão, tendo em conta que a banda somos só nós os dois. Para este disco, foi mais uma tentativa de ajuste, o que pensámos foi: nós queremos na mesma continuar a tocar com uma banda e até a nossa versão ao vivo de banda até aumentou para este disco, mas queremos que o disco seja possível de tocar só nós os dois, com a instrumentação que usamos, sem parecer demasiado falso. Então para isso decidimos usar instrumentos maioritariamente eletrónicos para além das nossas vozes e da guitarra, muitos vindos da década de 80, porque quando foi essa questão do Prince, quando ouvimos e percebemos que grande parte das músicas do Prince, que podia tocar com quem quisesse, foram gravadas com uma drum machine, o nosso raciocínio foi literalmente: se foi suficiente para o Prince, acho que vai ser suficiente para nós (risos). E gravámos o disco com essa premissa.

As vossas influências, pelo menos para este disco, são claramente dos anos 80, podia ser até a banda sonora daquele episódio de Black Mirror…
Ed: O San Junipero…

Exactamente. As influências dos anos 80 são audíveis e são as vossas influências ou é só para este disco?
Catarina: É só neste disco. Nós somos bastante eclécticos nas influências e nas nossas procuras musicais e vimos inclusive de escolas musicais bastante diferentes.

Ed: A Catarina tem um background de blues e jazz e alguma pop-chiclet assim manhosa, digamos assim (risos)

Catarina: Eu adoro, guilty pleasures fazem bem a toda a gente…

Ed: E o meu crescimento foi muito à base de rock, com uma fase trip-hop, mais música psicadélica também. O que eu tenho sentido é que nós não gostamos muito de nos repetirmos, e no primeiro disco nós conseguimos arranjar uma estética de produção e de instrumentalização para o disco que gostamos e sentimos que tem um som coeso e um som próprio e não necessariamente ancorável no ano em que saiu, acho que não é um disco que se possa dizer “ah, este soa mesmo a 2015”, que é algo que nunca quisemos, tentamos sempre que seja o mais intemporal possível. Este disco não foi feito propositadamente para que nos sentíssemos como se estivéssemos em 1980, o caminho não foi “agora vamos ser fiéis e parecer que estamos em 1987”. O nosso objetivo foi tirar coisas dos imaginários que nos influenciaram na altura e trazer para o hoje o que nos apetece fazer.

Não é vincadamente nos anos 80, mas há reminiscências.
Ed: Completamente! E assumidíssimas. E essa foi uma das críticas construtiva e positivas que recebemos, sem contar e sem ser esse o objetivo. Já não me lembro de quem disse que nós conseguimos fazer um disco a ir buscar as partes boas dos anos 80 e a descartar as partes más, que também havia muitas coisas más…

Catarina: Sim, como em todo o lado.

Ed: Agora, se isso é uma coisa que se vai manter ou não… Por um lado, esta estética que nós chegámos para este disco… há um lado de mim que sente que ainda tínhamos umas coisas a dizer neste campo, mas por outro lado, mal acabamos um disco e mal acabamos a tour é “o que é que nós vamos fazer de diferente”.

Catarina: Ainda temos muitas músicas na gaveta, e vamos aproveitar uma ou outra, ou então não. É uma incógnita.

Ed: A tendência é fazermos uma coisa diferente.

Best Youth / Fotografia de Aloísio Brito

Como sabemos, agora é muito fácil disponibilizar música online, alguém, sem sair do próprio quarto, pode lançar músicas online. Mas por outro lado, também é cada vez mais difícil ser ouvido e destacar-se e serem ouvidas. Este factor tem de certa forma impacto no vosso processo criativo?
Ed: No processo criativo… acaba por ter.

Catarina: No processo criativo em si, não, é indirecto.

Ed: O que aconteceu nos últimos, diria, 20 anos é que a barreira de acesso para se gravar música profissionalmente foi substancialmente baixando. Em 1990, para gravar um disco profissional era preciso ter o apoio de uma editora profissional porque era um processo caríssimo, muito pouca gente que não fosse mesmo muito rica e não tivesse um contrato com uma editora tinha acesso a gravar um disco, com um som profissional, preparado por profissionais. Essa barreira tem vindo a baixar nos últimos anos, o que é uma coisa boa porque qualquer pessoa que seja criativa tem acesso muito mais facilitado e pode aparecer música de um miúdo, que se calhar não tem tantas possibilidades financeiras, mas consegue ter um nível de qualidade musical em casa, no quarto dele, que há 20 anos era impossível e, graças a isso, consegue ter um lugar próprio. Isso é uma coisa positiva. Agora, há um lado negativo, é que há de tudo. A partir do momento que o processo baixou, o vizinho desse miúdo pode não ter qualquer tipo de talento, mas tem acesso às mesmas ferramentas e ao mesmo fórum para lançar a música dele, por isso abriram-se as comportas e é muito mais difícil curar música e descobrir música porque há muito ruído. Para nós, em termos de processo criativo, foi sem dúvida uma coisa que facilitou porque nós também lucramos com essa questão da barreira de acesso mais baixa. Nós continuamos, ao fim de sete anos, a ser uma banda independente, temos a nossa própria editora e fazemos os nossos discos de forma independente. E não nos revemos neste momento a fazer as coisas de uma forma diferente, por isso, toda a nossa forma de trabalhar, desde a nossa composição ao trabalhar das músicas, ao esculpir, àquele “massajamento” final, aquela lixa 4000, que uma pessoa vai lá polir, todo esse processo que nós gostamos de fazer nas nossas músicas e que nós gostamos de fazer seria muito difícil de fazer com outros meios, a trabalhar num estúdio em que o tempo está sempre a contar e é um processo caro, por isso acho que somos, sem dúvida, filhos desse processo.

Como naturais do Porto, e sendo o Porto, há já várias décadas, um núcleo criativo que tem marcado o panorama musical nacional, há alguma característica do Porto que potencia este núcleo de criatividade?
Catarina: Acho que também tem que ver com o tipo de pessoas. Existe uma personalidade distinta entre as pessoas mais a norte e as pessoas mais a sul, não que umas sejam piores do que as outras, mas são personalidades distintas, o que eu sinto na cidade do Porto e com as pessoas do Porto e com os artistas do Porto, é que existe um calor e um entrega na partilha que, se calhar, eu não senti tanto com bandas mais a sul. Aí, eu sinto isso, e acho que isso pode facilitar, ou ter que ver, não quer dizer que tenha, mas pode ter que ver com a questão de o Porto ter um foco criativo mais sentido.

Ed: Acho que, por outras palavras, não é forçosamente que haja mais calor no Porto do que nas bandas em Lisboa, o que eu acho que existe é que em Lisboa, como os meios estão concentrados cá, as salas de festivais, os festivais, estão todos concentrados cá, uma banda nova que apareça, e isto é válido ainda hoje, mas ainda mais há 10 ou 20 anos, tem de certa forma acesso facilitado a aparecer e a existir. O que eu acho é que no Porto nós temos de falar mais alto, porque estamos mais longe e, mesmo financeiramente, é mais difícil uma banda existir no Porto do que cá. Porque sempre que é preciso fazer promoção, ou dar uma entrevista, temos de fazer um esforço financeiro para vir e para voltar. Ou seja, acho que historicamente as bandas do Porto, um bocado por necessidade de dizer “eu estou aqui”, às vezes não é dizer que são tão trabalhadoras cá em baixo, mas não há outra hipótese. Uma banda do norte que não seja trabalhadora e não se entregue a 100% ao que faz não tem hipótese. É preciso lutar tanto para conseguir ser uma banda longe, e quem diz o foco do Porto, diz qualquer outro. Há imensos focos, há um foco em Barcelos, em Coimbra – acho que essas bandas têm necessidade de “go the extra mile”. De dar o litro, e isso é uma coisa que se destaca.

Quanto do Porto há na vossa música?
Catarina: Acho que no meu caso, a questão da saudade, da nostalgia, acho que há uma ligação directa, há esse sentimento no Porto. A questão da nostalgia é muito forte, nós somos muito saudosos e, para mim, é isso que tem que ver. Há uma determinada tristeza, pode ter que ver com o tempo, o tempo é mais escuro,

Ed: As praias a norte são frias, à noite é um frio do caraças.

Catarina: e isso molda-te, e vai-te moldando. Acho que no meu caso tem que ver com isso.

Ed: Acho que não só o Porto, mas em geral o norte litoral tem essa carga, talvez por causa do frio, de nos pôr um pouco mais introspectivos do que, talvez, mais a sul, que se tem acesso a praias que uma pessoa não acha que vai morrer quando entra na praia. A mortalidade a norte é-nos, se calhar, mais relembrada do que a sul.

Fala-se e sente-se agora muito sobre a questão do turismo, sobre a massificação do turismo, que em Lisboa nota-se, mas no Porto nota-se muito mais. Acham que esta identidade, que tanto caracteriza o Porto e que se reflecte tanto na música, como na literatura, se poderá perder?
Catarina: Hoje em dia, e a partir do momento que vivemos a globalização e em que o turismo tem um foco muito importante no income económico do país, de uma cidade, de uma região, as coisas uniformizam-se um bocadinho e tu perdes, como dizias, um pouco dessa identidade, perdes esse peso, essa personalidade. Eu sinto no Porto, apesar de continuar a ter sítios emblemáticos e eu continuar a reconhecer tudo aquilo com o qual nós crescemos, também sinto que se tenha dissimulado um pouco, na cultura, na própria postura. Chegares a uma loja e falarem-te em inglês é uma coisa que me faz confusão.

Ed: Acho que o processo de gentrificação é um cancro inevitável. É o crescimento de uma cidade global e acho que, infelizmente, é inevitável. Eu olho para Londres e o centro de Londres é um sítio desabitado de londrinos “verdadeiros”. As coisas foram compradas por capital estrangeiro, são por vezes prédios que valem milhões e estão abandonados. E no Porto o caso não é exactamente esse, mas sentimos, de facto, que o centro e as zonas mais ocupadas pelo turismo estão de facto diferentes e é impossível sentir o carácter que existia nessas zonas. Eu vivi na baixa do Porto, muito perto dos Clérigos, durante o início deste processo. Assisti à introdução e à forma como as coisas mudaram e sente-se. Agora, no Porto continuam a estar as mesmas pessoas, continuam a existir lá. O que eu acho é que, como em todos os países em que isso acontece, os circuitos artísticos mudam de sítio, emigram mais para fora, por isso é que se começa a ver um pólo criativo em Campanhã. A cidade parece que vai chegando mais para os lados e o que se passa é que o centro e a baixa do Porto, e o que simbolizava a cidade há uns anos, talvez estejam perdidos para sempre. Quando as pessoas que viveram isso já não estiverem cá para contar as histórias, perdemos. Mas eu acho que esse espírito continua a viver nas pessoas do Porto e vai alastrando. Não perdemos o Porto.

E do Porto vamos para onde, como banda?
Ed: Do Porto fomos para Nova Iorque, este ano. Viemos a Lisboa também fazer uma música com o Moulinex, mas o salto grande com este disco foi do Porto termos ido para Nova Iorque. Gravámos um disco com o Patrick Wimberly dos Chairlift, que era uma vontade que nós tínhamos depois de um disco que foi feito, 95%, a dois, a bater com a cabeça nas paredes e a discutir muito e sem saber, por vezes, qual o rumo. Quisemos abrir a porta durante muito pouco tempo e a muito poucas pessoas para entrarem e mexer em algumas coisas. Uma delas foi o Luís, que é nosso parceiro de longo prazo, e outra foi o Patrick, que conhecíamos muito mal, mas conhecíamos o trabalho dele e decidimos correr o risco muito grande de ir a Nova Iorque produzir uma música com ele.

Catarina: E gozar a experiência, que foi incrível.

Ed: Ficámos mesmo, mesmo contentes com o resultado, aprendemos imenso e agora de Nova Iorque não sabemos para onde vamos.

Vamos ter uma tour dos Best Youth pelos estados americanos?
Ed: Está tudo nos planos. Recebemos muitos pedidos de fãs para tocar aqui e ali e nós queremos ir a todo o lado. Mas a realidade burocrática e financeira de tocar fora da União Europeia, digamos assim, é complicada para todas as bandas da nossa escala. Há os festivais, neste momento temos uns colegas nossos que foram ao Waves em Viena e vão ao Airwaves na Islândia. Nós fomos ao Eurosonic no ano passado. Temos vários colegas que foram ao South x Southwest. Ou seja, esse processo ainda está na infância e está nos nossos planos fazer uma tour nos EUA.

O vosso objetivo para este álbum é o de chegar mesmo a todo o lado?
Catarina: Chegar o máximo que nós conseguimos, sim.

Ed: O nosso objetivo é sempre esse. Por vezes as pessoas perguntam-nos, como se tivéssemos feito uma reunião e tomado uma decisão, porque é que nós cantamos em inglês. Eu acho mesmo que as pessoas imaginam que nós nos sentámos, com accionistas e coisas e perguntámos “então qual é aqui a melhor maneira de tal”. Isso não aconteceu. A Cat e eu tivemos uma infância, por causa dos nossos pais, bastante ligada à língua e à cultura anglo-saxónicas. Em minha casa não se ouvia música portuguesa, sempre se ouviu música em inglês. Os meus pais não compravam música portuguesa, e essa foi a forma como nós começámos, organicamente, a trabalhar. A verdade é que nós havemos, talvez, de trabalhar e fazer um disco em português. Que comunique, tenha empatia e ligue com as pessoas com as quais nós partilhamos uma vivência e uma história, mas a verdade é que ao fazeres um disco em inglês estás a comunicar com toda a gente que percebe a língua, é uma comunicação global. Por isso, nós desde o início que muito humildemente fazemos a música em inglês, aberta a qualquer pessoa e até ficamos tristes quando alguém vem criticar.

Catarina: Como é óbvio, entendemos a questão e o peso da língua materna. É uma questão cultural, de personalidade tua, como português. E eu compreendo que as pessoas, por vezes, possam revoltar-se com o facto de as bandas cantarem em inglês. Mas essas pessoas também deviam compreender o outro lado, que é a questão do nosso caso ser orgânico. Desde os 3 anos que aprendo inglês e convivo com pessoas americanas e inglesas e sempre tive uma proximidade muito grande. O Ed igualmente. No nosso caso foi orgânico e sim, o facto de cantarmos em inglês é uma forma de chegarmos a mais pessoas e de as pessoas conhecerem a nossa música, identificarem-se ou não com as letras. Tem outro alcance, mas não foi planeado.

Se cantassem em português só porque sim provavelmente também não teríamos a mesma fluidez, não?
Catarina: Sim, quando canto em inglês ou quando canto em português é muito diferente.

Ed: Nunca compusemos músicas em português, mas há-de provavelmente acontecer um dia e queremos esse desafio. Mas, lá está, tem de ter um contexto e vir de uma vontade e de um contexto específico, não pode ser “agora o próximo disco tem de ser em português”, não funciona para nós.

Os vossos concertos de apresentação são agora a meio de Outubro…
Ed: Sim, 19 de Outubro no Estúdio Time Out em Lisboa e dia 25 de Outubro na Casa da Música – Sala 2.

E podemos esperar uma bola de espelhos?
Ed: Vamos esperar uma mistura dos dois discos e, pela primeira vez, desde a nossa formação em 2011, vamos tocar com uma banda de 5 elementos. Eu e a Catarina, na bateria será o Tito Romão dos Salto, nos teclados o Miguel Ferreira dos Clã e no baixo e nos sintetizadores será o Fernando Sousa dos X-Wife. A novidade serão os teclados do Miguel Ferreira e será a primeira vez que tocamos com teclados ao vivo. E está a dar-nos um gozo tremendo reinventar as músicas e reinterpretar as músicas à luz de termos uma banda completa, que nós nunca pudemos fazer. Todas as músicas vão ter um bocadinho de bola de espelhos, que está dentro de nós e é impossível fugir, mas, por outro lado, todas terão este disco noire que nós quisemos para este disco.

Concertos de apresentação Cherry Domino 

Lisboa | 19 Outubro | Estúdio Time Out Market
Início do espectáculo: 22h00
Abertura de portas: 21h00

Preço dos Bilhetes:
10€
12,5€ (dia do espectáculo)
Locais de venda: Rede Ticketline, Time Out Market

Porto | 25 Outubro | Casa da Música (Sala 2)
Início do espectáculo: 21h30
Abertura de portas: 21h00

Preço dos Bilhetes:
10€
12,5€ (dia do espectáculo)
Locais de venda: Rede Ticketline, Casa da Música

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