Basqueiral 2018: a boa música e a amizade moram em Santa Maria da Feira

por Daniel Dias,    24 Junho, 2018
Basqueiral 2018: a boa música e a amizade moram em Santa Maria da Feira
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O passado 15 de Junho era aguardado com entusiasmo há algum tempo – e nem só por se tratar da estreia de Portugal no Mundial de 2018. É claro que o hat-trick de Cristiano Ronaldo frente à Espanha deu um sabor especial às cerimónias nesse quentinho final de tarde… mas em Santa Maria da Feira a festa começava a ser preparada ainda antes de se dar o pontapé de saída no duelo ibérico. Tudo porque era o primeiro dia da segunda edição do Basqueiral… o que para muitos é o mesmo que dizer que era dia de começar um dos festivais mais apetecíveis para abraçar este início de verão.

O evento cumpriu a promessa com que se tinha despedido no ano anterior e trouxe à cidade um cartaz forte e variado, no qual o bom ambiente e a amizade foram constantes. Até a igreja serviu de palco, e foi O Gajo quem por lá apareceu para dar o mote. A sua guitarra rasgada e melancólica ecoou pelo espaço e deixou enormes calafrios nos ouvintes. Mas as mesmas pessoas que quase ficaram lavadas em lágrimas ao som de “A Carteirista” ou “Há Uma Festa Aqui Ao Lado” sentiriam a electricidade das pedaleiras a transformá-las meros instantes depois.

A linha que separa os artistas do público no Palco Museu é microscópica, e os Dirty Coal Train ilustraram isso ao máximo com o concerto que deram. O seu rock de garagem turbulento e caótico entrou em sintonia perfeita com aqueles predispostos a ouvir as guitarradas frenéticas do trio. Ricardo Ramos – o carismático vocalista com dotes à la Thurston Moore, e que muito terá satisfeito felizes festivaleiros que foram ao Basqueiral com camisolas dos Sonic Youth – viu a certa altura que a hora de desligar os amplificadores estava a chegar, e bem tentou explicar-se, mas os seus apelos seriam ignorados: um duplo encore foi o que as entusiasmadas filas da frente pediram, e um duplo encore foi o que receberam.

Os foguetes ficariam por conta dos millennials na noite inicial: os Fugly estrearam o Palco Parque e aumentaram a temperatura ao máximo. O quarteto liderado por Jimmy Feio tocou pouco antes da meia-noite, e levou a plateia ao rubro antes de se instalarem as sonoridades pesadas de Ângela Polícia e a hipnose em doses pós-punk dos 10,000 Russos. Scúru Fitchádu desferiu o golpe final desse primeiro dia, e comprovou que mesmo às três da madrugada o Parque de Santa Maria de Lamas tem como se agitar.

O cenário era acolhedor na sexta-feira e já parecia familiar no sábado. Os cantos do recinto já se conheciam bem e a chama que tinha sido acesa nas 24 horas anteriores foi retomada em estilo. As honras foram feitas pelas peças da casa – desde o colectivo Ritmare ao rapper OG’ ou ainda aos Skars – mas os nomes mais esperados estavam para vir. Alguns entraves iniciais colocaram-se no caminho dos Whales, mas o grupo leiriense motivou danças com o seu indie pop melodioso, e convenceu graças à entrega que os define. Iguana Garcia também removeu pés do chão na sua forma habitual; e fazer-se acompanhar do público no refrão de “60KF” foi um pormenor que não faltou.

Os batimentos cardíacos ficaram descontrolados quando os First Breath After Coma subiram para actuar: a montanha russa de sentimentos que a banda desperta criou um ambiente de pura catarse que uniu músicos e fãs num único corpo. A sinergia que se fez sentir tomou de assalto quem muito quis cantar juntamente com Roberto Caetano, o que culminou nalguns dos momentos mais memoráveis do festival. L-Ali teve a tarefa de encerrar a parte do Basqueiral dedicada ao hip-hop, e eis que o resto da noite seria dedicado ao rock.

Os bons rapazes dos Stone Dead tocaram com tanto fulgor que deitaram a luz abaixo logo na primeira música. Mas, depois de uns minutos de espera, os pequenos raios que incidiam sobre a bateria de Bruno Gallini voltavam a iluminar-se, e “Blooze” era retomada, para o êxtase dos presentes. E o resto? Foi o que já se costuma esperar da banda de Alcobaça: rock puro e sempre a rasgar, do melhor que se produz em Portugal. Houve tempo para os singalongs com “Candy”, assim como para os moshes com “Apple Trees”, num concerto que ninguém se importaria de ver prolongado mais umas quantas horas.

A missão de encerrar o Basqueiral com distinção coube aos Killimanjaro e ninguém desiludiu: o heavy metal de Barcelos assentou que nem uma luva no Parque de Santa Maria de Lamas. O riff de “Ace Of Spades” – apresentada como “uma versão da melhor banda de sempre” – transformou-se num golpe forte de feedback até que o arrebatador último aplauso da noite deu por concluída a grande festa.

Apenas na sua segunda edição, o Basqueiral já conquistou um lugar especial nos corações das pessoas de Santa Maria da Feira; e não só. Não é difícil de perceber porquê: se a música que o acolhedor festival traz à cidade é de uma qualidade inegável, o espírito de amizade que o define contagia e apaixona. Depois dos concertos e das conversas chegarem ao fim, cada um vai para casa com as melhores memórias na bagagem, e também com o encontro marcado para o ano.

Fotografias e vídeo: Daniel Dias / CCA

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