Aprendi a respeitar a depressão

por Luís Osório,    22 Junho, 2020
Aprendi a respeitar a depressão
Pedro Lima / DR
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A morte de Pedro Lima… tenho lido por aqui e por ali… é incompreensível. Como se pode explicar isto sabendo que ele, aparentemente, tinha tudo? Uma carreira de sucesso, uma família com filhos tão luminosos e uma mulher que eu sei que amava, tudo.

Mesmo com capa afetuosa, mesmo mostrando admiração ou simpatia, começou a crescer a incredulidade nos comentários, a dificuldade de entendimento… como foi possível algo tão brutal?

Não falava com o Pedro há bastante tempo – julgo que a última conversa mais longa terá sido no final de 2017. Não posso nem quero fazer juízos sobre o seu estado anímico ou a sua saúde psicológica, mas apetece-me dizer que um grupo alargado de pessoas não sabe o quanto pode ser o tamanho de um poço quando nele nos afundamos. Se soubessem o quanto podemos ser engolidos ou o quanto o sofrimento psicológico pode arrasar tudo o que damos por adquirido não se perguntariam “como é possível”…

Depois do meu texto de sábado recebi algumas mensagens de pessoas em desespero. Pessoas que desabafaram sobre o que estão a sentir, sobre a tristeza funda que não conseguem matar, sobre a vontade que têm (tantas e tantas vezes) de partir num qualquer lugar onde não seja possível regressar ao horror de ter de acordar todos os dias com uma dor de inferno e amigos que se afastam ou não compreendem.

Nunca senti qualquer tipo de depressão, mas sei bem o que é a depressão. Vi pessoas com quem partilhei a vida num estado de morte antes da morte. Vi-as não conseguir sequer ter a força para se levantarem da cama ou numa tristeza indecifrável… como se um monstro as devorasse por dentro.

Aprendi a respeitar a depressão.

Nas mensagens que ontem e hoje recebi disse sempre o mesmo.

Não desistam de ver a luz onde agora apenas existe a escuridão.
Não desistam do futuro em nome do que perderam no passado.
Não desistam de agarrar o tempo, de procurar ajuda nos que as podem ajudar a sair de um buraco onde não parece existir escapatória.

Há sempre escapatória.
Há sempre caminho para cima… mesmo que não vejam as escadas elas estão lá para serem subidas.
E há sempre pessoas que serão capazes de nos salvar… se quisermos ser salvos.

E viver…

Sei que é esdruxulo dizê-lo a quem apenas vê sombras neste ofício a que estamos felizmente condenados, mas acreditem. Viver é uma oportunidade de fintarmos o que parece ser o destino, viver é um combate que pode ser ganho para espanto dos que não acreditam.

Se está assim… se estás assim… não hesites. Telefona:

Centro SOS-Voz Amiga: ajuda na solidão, ansiedade, depressão e risco de suicídio
Telef.: 21 354 45 45 – Diariamente das 16 às 24h
Telef.: 91 280 26 69 – Diariamente das 16 às 24h
Telef.: 96 352 46 60 – Diariamente das 16 às 24h
website: www.sosvozamiga.org

Telefone da amizade – 228 323 535
Apoio em situações de crise pessoal e suicídio das 16h às 23h

APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima – 707 200 077

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