Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
No Result
View All Result
Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result

Ano Agustina: ‘O Manto’, ou as histórias que ficam por contar

por Tiago Vieira da Silva
27 Maio, 2018
em Críticas, Livros
Ano Agustina: ‘O Manto’, ou as histórias que ficam por contar

Ilustração de Luisa Silva Gomes / CCA

Este artigo faz parte do Ano Agustina, no âmbito do qual, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte lançará, a cada mês, uma crítica a um livro da obra de Agustina Bessa-Luís, neste momento a ser reeditada pela editora Relógio d’Água.

No Livro de Job do Antigo Testamento, Job rasga o seu manto e expõe as marcas do mal que o reveste; e esse manto, que todos nós carregamos, é impossível de ser descrito, pois, desagasalhando-nos ou ocultando-nos, subsiste sempre no seu arrastar de «todas as fúrias e ternuras do mundo», expondo tanto as suas manchas e os seus rasgões como as marcas do corpo que protege.

Na obra O Manto, de Agustina Bessa-Luís, o que lhe dá o título enovela as várias personagens do Porto de finais dos anos cinquenta do século XX, em simultâneo com a família de Job, entrecruzando-as e às suas experiências num ensaio visionário sobre a natureza humana – donde irrompem tanto as paixões como, também, a perversidade que já vários apontaram a Agustina, e que ela refuta, no entanto, sublinhando a diferença entre o saber-se o que é a perversidade, e sê-lo, de facto.

O urbano e o rural confluem na representação de uma sociedade e das referências provincianas nos seus costumes e hábitos, ilustrando um retrato social que nos é revelado nas intermitências do «desenho nítido das paisagens», como referiu Teixeira de Pascoaes na carta que enviou a Agustina a propósito de Mundo Fechado (1948), a primeira obra publicada pela autora – um desenho que ele louvou pela veemência com que o feriu «a figura esboçada do personagem principal». Em O Manto, contudo, não há apenas um personagem principal, mas vários, que Agustina mergulha na melancolia, na inquietude, na incerteza, processo do qual é extraída a força propulsora da história, ou, melhor dizendo, das várias histórias que se encadeiam na narrativa.

Também em O Manto, o desenho das paisagens da extinta província do Entre-Douro-e-Minho, entre o Porto e a Serra d’Arga, constrói-se a partir das personagens e das suas relações pessoais, a maneira como estas se desdobram e se perdem nas cores do Barredo, nos azuis foscos das paredes da casa de Manuela, nas margens do rio Ave flanqueadas pela orla do bosque; na fragilidade de Lourença, na argúcia ácida de Filipe, na paixão de Gracia. E, entre galanteios, conluios, discussões filosóficas ou discussões prosaicas, é traçado um retrato da sociedade portuense, temperado pela inquietação tão idiossincrática de Agustina, que se fragmenta nas aspirações, nas paixões, nas desilusões, nas ambições dos vários personagens, oscilantes entre polos tão extremos como o altruísmo e a venalidade, que tecem o manto de «farrapos imensos onde se embalou a morte», o manto que «não se lê nem se escreve», o manto que «todos os descontentamentos (…) protege, todas as ignorâncias (…) vence, todas as solidões (…) inspira e transfigura».

É este manto que, ao arrastar-se pelas paisagens do Porto e do Minho e pelos campos da terra de Hus, de espinheiros e amendoeiras em flor, faz irromper as várias histórias que, na sua transitoriedade, invocam a importância da «memória do amor», seja pela sua presença ou pela sua ausência, pois «nem tudo é, na realidade, uma história, excepto se a memória do amor a consagra como tal». Agustina debruça-se assim sobre o mais prosaico da vivência humana, os encontros e os desencontros, os episódios que a própria autora vai recordando e enunciando, desde a história de Jemimah, filha de Job, que perscrutava os campos e as estradas à procura do pastor com quem outrora se cruzou, e que continuou a desejar mesmo depois de se casar com o rico mercador a quem fora prometida, à história do homem conhecido como Rapa-Caveiras, que trabalhava no Instituto de Medicina Legal e cuja filha, depois de se ter suicidado, ficou na morgue sete dias sem que o pai a reconhecesse – precisamente pela falta dessa «memória do amor».

Quem conhece a obra de Agustina Bessa-Luís sabe que os seus livros terminam comummente de forma inclusiva, e, como tal, também O Manto, na catadupa de histórias, pensamentos e ideias que eclodem na profusão de imagens, deixa deliberadamente em aberto o destino das personagens e as questões que irrompem ao longo da narrativa, num final coroado, e bem, pela frase: «Eis como se termina um livro – deixando sempre alguma coisa por dizer».

Se quiseres ajudar a Comunidade Cultura e Arte, para que seja um projecto profissional e de referência, podes apoiar aqui.


Deixa o teu comentário, aqui:

Tags: Agustina Bessa-LuísAno AgustinaO MantoRelógio D'Água

Artigos Relacionados

“A Era do Capitalismo da Vigilância”, da socióloga Shoshana Zuboff, chega às livrarias portuguesas

“A Era do Capitalismo da Vigilância”, da socióloga Shoshana Zuboff, chega às livrarias portuguesas

por Redacção
14 Dezembro, 2020
0

Nesta obra, editada em Portugal pela Relógio D'Água, a socióloga norte-americana Shoshana Zuboff mostra como está em vias de desaparecimento...

9 livros que podes oferecer no Natal

9 livros que podes oferecer no Natal

por Redacção
11 Dezembro, 2020
0

Mesmo que a pandemia persista em nos manter fechados em casa, o Natal está finalmente a aproximar-se e, com isso,...

“Noites Brancas”, de Dostoiévski: a eternidade num minuto de felicidade

“Noites Brancas”, de Dostoiévski: a eternidade num minuto de felicidade

por Ana Isabel Fernandes
30 Setembro, 2020
0

Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski, foi relançado este ano pela Relógio D'água, numa oportunidade para uma nova incursão pelo livro...

“Montanha Mágica” e “Morte em Veneza”: o confronto de ideologias em Thomas Mann

“Montanha Mágica” e “Morte em Veneza”: o confronto de ideologias em Thomas Mann

por Ana Isabel Fernandes
15 Agosto, 2020
0

Thomas Mann foi dos escritores que mais bem retratou a mudança de paradigmas do século XIX para o século XX,...

Novo romance de Elena Ferrante, “A Vida Mentirosa dos Adultos”, vai ser publicado em Portugal

Novo romance de Elena Ferrante, “A Vida Mentirosa dos Adultos”, vai ser publicado em Portugal

por Redacção
21 Novembro, 2019
0

De Elena Ferrante, a Relógio D’Água publicou Crónicas do Mal de Amor, A Amiga Genial, História do Novo Nome, História de...

À procura de Hemingway em Ronda

“Memórias, Sonhos, Reflexões”: uma viagem interior pela autobiografia de Carl Gustav Jung

por Ana Isabel Fernandes
30 Outubro, 2019
0

“As circunstâncias exteriores não podem substituir as interiores. Por isso, a minha vida é pobre em acontecimentos exteriores. Não posso...

Assina a nossa Newsletter

Recebe em primeira mão, todas as novidades da Comunidade Cultura e Arte

Os mais Populares

“Deus Cérebro”. RTP1 estreia série documental sobre o cérebro humano

“Deus Cérebro”. RTP1 estreia série documental sobre o cérebro humano

7 Janeiro, 2021
Nick Cave: “São os artistas que vão para lá das fronteiras socialmente aceites e que nos trarão novas ideias sobre o que significa estar vivo”

RTP2 exibe concerto de Nick Cave & The Bad Seeds na Royal Arena de Copenhaga

21 Janeiro, 2021
Presidenciais 2021

Presidenciais 2021

15 Janeiro, 2021
Dino D’Santiago, Sara Tavares e Mayra Andrade assinam petição para que seja feita nova versão portuguesa de “Soul”

Dino D’Santiago, Sara Tavares e Mayra Andrade assinam petição para que seja feita nova versão portuguesa de “Soul”

2 Janeiro, 2021

Sobre a Comunidade Cultura e Arte

A Comunidade Cultura e Arte tem como principal missão popularizar e homenagear a Cultura e a Arte em todas as suas vertentes.

A Comunidade Cultura e Arte procura informação actual, rigorosa, isenta, independente de poderes políticos ou particulares, e com orientação criativa para os leitores.

ver mais

Segue-nos no Facebook

Segue-nos no Instagram

Seguir

  • 253
    Apoia-nos pelo Patreon  Segue pelo link das nossas stories ou da nossa bio  Se tiveres du  vidas envia-nos uma mensagem
  • 2.5k
    A Billie Eilish e a Rosal  a juntaram-se num novo single   Lo Vas A Olvidar   J   ouviram
  • 1.4k
    Ontem foi o dia mundial do abrac  o  Este dia foi criado por Kevin Zaborney e foi comemorado pela primeira vez em 1986  nos EUA   Sa  o dias complicados para abrac  os mas quem os puder dar que os de   e que os valorize ainda mais    Filme     L ami de mon amie     1987  Realizado por  Eric Rohmer
  • 3.6k
    Filme     Pr  nom Carmen     1983  Realizado por  Jean-Luc Godard
  • 569
    Um pensamento poli  tico         Antes de tudo  Eu vou votar  Considero o voto seguro  e considero a democracia a maior conquista da nossa civilizac  a  o  Com ma  scara  dista  ncia e lavagem de ma  os  sinto que me estou a proteger e a respeitar os demais          Cro  nica do me  dico Gustavo Carona      Le   o texto completo no nosso site
  • 560
    Um partido    anti-sistema    com 22    portugueses de bem    que s  o alguns dos piores que temos no sistema         Recentemente  fiquei a saber que o Andr   Ventura    de longe o candidato   s presidenciais mais categoricamente rejeitado pelos portugueses inquiridos numa sondagem do Jornal de Not  cias  Nenhum outro candidato    encarado com tamanha rejei    o  65    Sinceramente  n  o estou admirado  H   dois dias falava com uma senhora de 76 anos que o descrevia como    um trafulha     Nas conversas que tenho tido com outros populares  incluindo os menos politizados  fiquei com a sensa    o de que  regra geral  as pessoas desconfiam que ele    um charlat  o  algu  m que n  o    de confian  a          Cr  nica de Jo  o Pedro Martins      L   o texto completo no nosso site      Matthew Ansley   Unsplash
  • 645
    Esta  s na linha da frente no combate a   pandemia  Envia-nos o teu testemunho        Ilustrac  a  o de Vanessa Santos   vanessa s illustration
  • 606
    Sobre a actual transpare  ncia da tolice ou do politicamente imbecil     Longe va  o os tempos em que o senso comum significava um conhecimento que ainda possui  a uma candura inge  nua  A necessidade de consta  ncia de uma cade  ncia vital cuja vida pra  tica  desde sempre  perpetuou  fez com que homens e mulheres anexassem ao suor do seu labor  a necessidade de um dispositivo psicolo  gico autopacificador          Cro  nica de Cla  udio Azevedo  professor de filosofia     Le   o texto completo no nosso site
  • Sobre a CCA
  • Privacidade & Cookies
  • Apoiantes
  • Parceiros
  • Fala Connosco Aqui

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.

No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.