Anna Karina relembra a sua vida com Jean-Luc Godard

por Gabriel Margarido Pais,    9 Maio, 2016
Anna Karina relembra a sua vida com Jean-Luc Godard
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Hoje em dia, Jean-Luc Godard é tido como um dos poucos homens vivos que reinventou o cinema. Na década de 1960, cada novo filme do realizador francês era mais do que uma estreia, era um evento, e ele tornou-se num de vários realizadores elevados ao patamar de génio, conseguindo reunir um consenso quase total entre os cinéfilos como um dos maiores nomes da história da indústria.

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Durante o período áureo da carreira de Godard, Anna Karina estabeleceu-se como a sua musa, atriz de eleição e mulher, bem como uma das maiores beldades dos ecrãs e símbolo da nova era do cinema francês. A modelo tornada atriz, no entanto, quando recorda os anos passados a trabalhar e viver com Godard, recorda a liberdade e a diversão em detrimento do fomento intelectual ou o hype das suas obras.

Agora com 75 anos, Anna Karina conta ao The New York Times que: «Na altura não nos víamos como pessoas que estivessem a reimaginar o cinema, pelo menos não no meu ponto de vista. Eu e os outros atores não fazíamos parte da indústria, não éramos as maiores estrelas. Filmávamos na rua e escondíamo-nos atrás de árvores para retocar a maquilhagem. Era uma maneira muito simples de trabalhar». Karina relembra estes momentos numa passagem por Nova Iorque, onde irá apresentar vários filmes de Godard em vários teatros e cinemas da cidade.

Karina conheceu Jean-Luc quando ainda eram adolescentes e ele preparava o seu filme de estreia, ‘Breathless‘. Godard quis que Anna Karina fizesse parte do projeto, mas ela não aceitou devido à cena de nudez que a sua possível personagem viria a protagonizar. Godard e Karina apaixonaram-se, contracenaram numa curta-metragem da autoria de Eric Rohmer e casaram em 1961.

Nos vários filmes de Godard protagonizados por Anna Karina, a atriz desempenhou  papéis tão diversos como os de uma stripper, uma jovem revolucionária, uma mulher robótica, um homem, e na última colaboração dos dois desempenhou um papel de femme fatale, entre vários outros.

«Apreciávamos a maneira como estávamos a fazer as coisas. Quando Jean-Luc nos dirigia sentíamos que estávamos a fazer algo de diferente. Nos filmes antigos de Hollywood, um personagem entra em cena, fecha a porta, acende um cigarro, senta-se e bebe algo. Nos filmes de Jean-Luc fazias tudo ao mesmo tempo, e por vezes não fechavas totalmente a porta. Às vezes o teu cigarro não se acendia à primeira. Movíamo-nos sempre pelas cenas numa maneira ativa que mais se assemelhava ao ser do que ao representar» conta Anna Karina.

Apesar de a relação de ambos não ter sido fácil, sendo Godard viciado no seu trabalho e possuírem ambos personalidades muito fortes, Karina conta que os problemas pessoais não foram transportados para o local de trabalho até muito tarde na sua relação. «Ele fazia de mim parva, e fazia-o de propósito» conta ao lembrar-se das gravações do filme ‘Made in U.S.A.», onde Godard deu a Karina uma fala peculiarmente difícil e exigiu que a cena fosse gravada de imediato.

Quando a relação conheceu o seu final, Karina esteve sempre muito perto do estrelato internacional, trabalhando com realizadores em ascensão como George Cukor e Tony Richardson. Atualmente, Anna Karina está a trabalhar num livro de memórias sobre os seus primeiros anos no ramo, ao mesmo tempo que monta um musical para o qual escreveu dez músicas.

«É muito tocante quando onde quer que eu vá, vejo pessoas jovens a vir ver os filmes de Godard. Seja no Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos ou em França. Os filmes não parecem velhos ou antiquados, ainda os sentimos frescos e emocionam as pessoas. E esse é um presente fantástico que ele me deu» conta Karina.

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