Álbum ‘Blur’ faz hoje 20 anos

por José Malta,    9 Fevereiro, 2017
Álbum ‘Blur’ faz hoje 20 anos
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Os anos 90 foram anos dominados por antecedentes de um século cheio de grandes acontecimentos históricos, há uma certa peculiaridade na moda, na arte e na música desta década que marcou uma geração. Os fatos de treino e os ténis que estavam na moda, a tecnologia que se tornou acessível a todos estando implementada nos videojogos, nos computadores e em telemóveis, e ainda o aparecimento de bandas que conseguiram aperfeiçoar o estilo mais pop que fora introduzido na década anterior mas tendo também como referência trabalhos de grupos dos anos 60 ou 70. Existem várias bandas que se destacaram por reinventarem estilos musicais baseados no rock anteriormente desenvolvido introduzindo o Indie Rock, e no caso de algumas bandas britânicas o chamado Britpop que se alastrou até aos dias de hoje. É difícil escolher uma banda que tenha marcado os anos 90 de maneira inconfundível, mas se há banda que possui um aroma abundante a anos 90, pelas músicas e canções, pelo estilo e pelo sucesso que tiveram, os Blur são certamente uma delas. Sendo hoje o dia em que o seu álbum homónimo celebra 20 anos, falar deste álbum e dos próprios Blur é como uma breve viagem no tempo até à década de 90 do século passado. Depois dos primeiros trabalhos e do sucesso obtido com The Great Scape, lançado em 1995, o quinto álbum da banda londrina seria intitulado com o próprio nome do conjunto e estaria mais virado para o rock e não tanto para o Britpop como os álbuns anteriores. O carisma do vocalista Damon Albarn, líder e ícone da banda bem como o conjunto musical com Graham Coxon na guitarra, Alex James no baixo e Dave Rowntree na bateria, facilmente levariam as suas músicas a serem devoradas pelo público. Contudo, com tamanha expectativa depois do sucesso que fora espontâneo conta-se que a relação entre os membros da banda se tornara mais tensa que levaria alguns dos membros a optarem por iniciar entretanto outros projectos.

O álbum começa com Beetlebum, single lançado em Janeiro e que atingira o primeiro lugar do UK Singles Chart, tal como Country House em 1995 com um sucesso de igual dimensão. Contudo, o que torna este no álbum mais “Blur” dos Blur é o facto de a música mais icónica da banda estar nele presente, a canção que fez com que os Blur se tornassem numa banda assídua em qualquer lista de música no spotify, no youtube, ou em qualquer dispositivo de armazenamento de música. Estamos certamente a falar no ilustre e poderoso Song 2, que é mesmo a segunda faixa deste álbum. A batida inicial da bateria com um riff suave dos acordes de guitarra, e explosão dos instrumentos com o “Woo-oh!” de Damon Albarn juntamente com a permanente combustão musical cheia de altos e baixos fazem destauma das canções rock mais poderosas de todos os tempos apesar dos seus singelos 2:02 minutos. Song 2 é considerada mais do que uma canção que representa o rock dos anos 90 uma canção que representa o rock no seu todo, até porque a sua utilização em filmes, séries ou mesmo simples vídeos é fortemente recorrente.

Mas claro, este álbum não se resume só a Song 2. Há muito mais conteúdo musical nas restantes canções que o compõem; M.O.R., quarta faixa do álbum, foi composta com base nos acordes de duas músicas cedidas por David Bowie, Boys Keep Swinging e Fantastic Voyage do álbum Lodger de 1979, numa canção que mostra traços do estilo musical do camaleão do rock. On your Own é considerada uma música primordial do projecto que mais tarde Damon Albarn viria a abraçar e que faria também sucesso desta vez já nos primeiros anos do novo século: os Gorillaz. Canções como Country Side Ballad Man, You’re So Great, Look Inside America ou ainda Strange News from Another Star apresentam um ritmo de balada onde a guitarra acústica está bem presente, apesar de tenderem para o Indie Rock à medida que a melodia vai fluindo. Death Of A Party e Theme from Retro possuem uma sequência de sons de sintetizadores que faz lembrar os pioneiros do rock psicadélico assim como I’m Just a Killer for Your Love. Chinese Bombs e Movin’ On apresentam um rock mais agressivo e a faixa final Essex Dogs, que ultrapassa os 12 minutos de duração, trata-se de uma faixa mística onde várias vozes são ouvidas em diversos tons com o acompanhamento dos instrumentos e num estilo musical psicadélico e electrónico. Todas estas junções fazem com que este álbum seja um dos mais polivalentes da década, evidenciando a musicalidade e o estilo virtuoso da banda.

O sucesso dos Blur com este álbum é o mais evidente de todos embora cada um dos seus álbuns tenha o seu próprio sucesso. A banda que resolveu anunciar um hiato em 2003, devido a outros projectos cujos membros se envolveram, já com sete álbuns de estúdio e um Best Of, regressava aos concertos em 2009, o que levaria a que treze anos depois fosse lançado um novo álbum (em 2015) com uma nova tour repleta de novas canções e os grandes êxitos de sempre. A presença dos Blur, que carregam com uma parte da música dos anos 90 e do final do século XX às costas, é visível e continua a ter seguidores, até mesmo o público mais jovem que não viveu esta última década de um século repleto de acontecimentos, progressos, avanços e até mesmo recuos. Talvez seja ainda demasiado cedo para se julgar a história e o percurso dos Blur na música mas a verdade é se hoje a descendência daqueles que nasceram nos anos 60 e 70 gosta de ouvir bandas que marcaram os anos 60 e 70, não é de admirar que a futura descendência daqueles que nasceram nos anos 90 venha a gostar de bandas dos anos 90, e os Blur serão seguramente uma delas.

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