A odisseia sonora d’O Salgado Faz Anos… FEST! 2020

por Comunidade Cultura e Arte,    28 Janeiro, 2020
A odisseia sonora d’O Salgado Faz Anos… FEST! 2020
Fotografia de Katie Sousa
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Mais um ano, mais uma festa de anos sem igual. A oitava edição d’O Salgado Faz Anos… FEST! decorreu este passado sábado. A noite mais longa do Maus Hábitos apostou na produção nacional e apresentou um alinhamento de diversas sonoridades, como manda a tradição.

O aniversário começou às 21:30, altura em que as portas abriram e Jetro Tuga iniciou um DJ set no Palco Super Bock. O espaço ainda não estava cheio, mas já havia um bom grupo de pessoas a preenchê-lo. O primeiro concerto aconteceu na Mupi Gallery às 22:00. O Gringo Sou Eu tinha só uma pequena mesa de mistura e um microfone, mas nem por isso deixou de conseguir energizar a multidão que o rodeava. A eletrónica unida às palavras em português de carioca ativista fez o público saltar com o artista que alguns tratam por Frankão.

22:30 foi a altura de os três palcos principais começarem com os seus concertos. LaBaq foi a primeira a pisar o Palco O Salgado. Pop indie alternativo e eletrónica experimental são algumas das componentes que criaram um ambiente imersivo dentro da sala de espetáculos do Maus Hábitos. “Viva o Salgado, viva este espaço incrível, viva vocês!”, disse a artista pouco antes da sua despedida. No Palco Super Bock eram os músicos do Colectivo Pointlist a trazer os primeiros acordes rockeiros da noite. “Son of God” (“Jesus Cristo, para quem não entendeu a referência”) e outras canções puxaram pelos decibéis. O duo Nooito fez as honras de estreia do Palco Stockhousen. A harpa de Angélica Salvi e a voz de Ece Canlı bastaram para levar a audiência por uma viagem pela metamorfose mental e corporal.

Nooito. Fotografia de Katie Sousa

A noite prosseguiu com o trio Don Pie Pie no Palco Super Bock. Não é só pelo nome inspirado em Dragon Ball que se consegue perceber a boa disposição do trio de amigos. As brincadeiras em palco divertiram o público, sem comprometer o rock que os fazia vibrar. Sara Pérsico construiu um sonho surreal dentro das quatro paredes do Palco Stockhousen com uma mesa de mistura e um projetor, que criaram uma experiência audiovisual intensa e com espaço para diferentes interpretações quanto à sua mensagem. No Palco O Salgado, a energia irresistível dos Fugly incitou moshpits na linha da frente do público. A ensinar a coreografia para acompanhar este baile de punk estava Kenny, incansável na dança e performance.

O violoncelo de Joana Guerra entrou em cena perto da meia-noite, no Palco Stockhousen. A artista utilizou tanto a voz como o instrumento para hipnotizar a audiência sentada ao seu redor. Improvisos e movimentos técnicos de enorme perícia agarraram a atenção dos presentes durante toda a atuação. Atuação essa que foi além do tempo previsto, apesar de ninguém se queixar disso, tal era a qualidade da música.

Valia a pena ficar pelo Palco Stockhousen, porque o gajo que se baldou o ano passado não repetiu a falha. Samuel Úria regressou ao Maus Hábitos, depois de por lá ter passado há uns meses. Entretanto, lançou o single “Fica Aquém” e o Salgado FEST! ouviu a sua versão ao vivo. É o habitual: um poema construído com escolhas inteligentes de palavras, uma guitarra sedutora e uma voz impressionante. O melhor momento, no entanto, veio depois, com aquela que é a canção mais portuense do reportório de Úria. Manel Cruz foi chamado de surpresa para ir à frente ajudar o gajo que se baldou no ano passado no dueto mágico de “Lenço Enxuto”. O público assistiu em silêncio religioso à interpretação íntima dos dois artistas. Poucos, talvez mesmo nenhuns, são os aniversários que têm direito a tanto pedigree musical.

Samuel Úria. Fotografia de Katie Sousa

Regressando ao Palco O Salgado, estava quase na hora de Scúru Fitchádu. A fusão caótica entre o punk, o funaná e a eletrónica levou o público ao rubro. É uma explosão musical a que nenhum vídeo ou gravação consegue fazer jus. Tem de se presenciar a sonoridade de Scúru Fitchádu ao vivo para se sentir o seu poder físico. Uma das marcas da atuação é o ferro tocado com auxílio de uma faca e, nesta noite, o artista teve uma ajudinha. O aniversariante entrou no palco que tem o seu nome para também tocar ferro com uma faca. No final, como recompensa pela boa prestação (e por tudo o resto), o público cantou os parabéns ao Salgado antes de ele sair do palco.

O garage punk dos The Dirty Coal Train manteve a energia da noite em alta, porém vitimizou uma guitarra. Não tem mal, outro instrumento (inclusivamente autografado pelos AC/DC) serviria de remédio… ou talvez não. Sem preocupações, o Samuel Úria deu uma ajuda e emprestou a sua guitarra. Porque os artistas do Salgado FEST! são todos excelentes profissionais a tocar grandes músicas, mas são também grandes amigos a divertirem-se.

O Palco Stockhousen encerrou com a eletrónica dos Conferência Inferno. O Palco O Salgado teve ainda dois DJ sets até ao final da noite. O Palco Super Bock acolheu os vinis das Twisted Sisters para colocar os presentes a dançar até ao encerramento do Maus Hábitos. Estava terminada mais uma festa de aniversário do Salgado, após quase nove horas preenchidas por 21 atuações.

Deambular pelo Maus Hábitos nessa noite é passar por uma montanha russa de música. A experiência sensorial inunda o público com energias e impressões distintas, e a única garantia é que há um pouco para todos. Uma odisseia sonora que só o aniversariante do quarto andar mais famoso da Invicta consegue proporcionar.

Texto de João Malheiro

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