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A forma como se fala do design segue a função de como se fala

por Mário Moura
3 Maio, 2019
em Crónicas

A forma segue a função. É possível que seja o provérbio mais conhecido do design. Mesmo que não se concorde, mesmo que pareça anacrónico, mesmo que nos seja indiferente, mesmo que reduzido a um jogo de palavras, se o design fosse um país, a forma segue a função seria o seu lema. Enquanto máxima, encarna uma aspiração ética, a ideia que o design e o designer serão melhores, estética e moralmente melhores, quando se coloca a utilidade acima da experiência formal. Enquanto estilo, evoca figuras geométricas, padrões modulares, matérias primas industriais. Evoca a mobília tubular da Bauhaus, a austeridade da arquitectura moderna, o espaço negativo e a feroz assimetria da Nova Tipografia.

A expressão é atribuída ao arquitecto Louis Sullivan. Como costuma acontecer com citações que andam aos caídos pelas timelines – as da história e as do facebook –, foi sendo polida pelo caminho. Sullivan usou-a num ensaio publicado no número de Março de 1896 da Lippincott’s Magazine. Intitulava-se The Tall Office Building Artistically Considered e vinha entalado entre uma quadra dedicada a Richard Wagner e um ensaio tratando da evolução histórica do bolo de casamento. Tratava da então novidade que era o moderno edifício de  escritórios, colocando o problema de como «se pode proclamar das alturas estonteantes deste estranho, singular, moderno telhado o evangelho do sentimento, da beleza do culto por uma vida mais elevada».¹

Para Sullivan, o problema encerrava a sua própria solução. Percebendo as funções e as necessidades essenciais do edifício de escritórios era possível encontrar-lhe virtudes estéticas que permitissem elevá-lo à «verdadeira expressão arquitectónica, através do acrescento de certa quantidade e qualidade de sentimento». Essa virtude residiria na altura necessariamente imponente do edifício de escritórios. Seria essa loftiness a matéria-prima estética que serviria de base ao trabalho do arquitecto.

Na última das três partes do pequeno texto, Sullivan argumenta um caso geral, e é aqui que surge a nossa máxima:

«Whether it be the sweeping eagle in his flight, or the open apple-blossom, the toiling work-horse, the blithe swan, the branching oak, the winding stream at its base, the drifting clouds, over all the coursing sun, form ever follows function, and this is the law. Where function does not change, form does not change. The granite rocks, the ever-brooding hills, remain for ages; the lightning lives, comes into shape, and dies, in a twinkling.

It is the pervading law of all things organic and inorganic, of all things physical and metaphysical, of all things human and all things superhuman, of all true manifestations of the head, of the heart, of the soul, that the life is recognizable in its expression, that form ever follows function. This is the law.»

Deixo-a no inglês original para que se possa apreciar a sua forma original. Salta à vista que uma expressão tão associada ao ascetismo agressivo do modernismo tenha surgido no meio desta sobrecarga torrencial, emocional, de metáforas. Sente-se o mesmo quando se lê o Ornamento & Crime, de Adolf Loos, uma defesa violenta, carregada, ainda mais emocional, do ascetismo no design. Há aqui um contraste entre a linguagem escrita e a linguagem do design – o modernismo do conteúdo não se reflecte ainda no da forma literária.

Claro que rapidamente se isolou e poliu o forma segue a função, dando-lhe a forma portátil e despojada que lhe conhecemos. A sua estrutura pode ser facilmente desmontada em módulos e remontada. Pode ser que a forma siga a função, pode ser que a função siga a forma, pode ser que o disforme siga a disfunção. As hipóteses são inúmeras. É uma fórmula e é em parte nisso que reside o seu poder. Reduzida a um binómio ou a uma antinomia – forma/função – sublinha-se a aliteração, tornando-a ainda mais versátil. Tanto pode ser uma fusão (formafunção) como dois termos irredutíveis separados por uma fronteira.

O equivalente alemão é Gestalt/Gehalt (Forma/Conteúdo) – que não só mantém a aliteração como rima. O ponto a reter é que a própria forma da expressão importa, não é neutra. É uma forma funcional, não no sentido de seguir uma função, mas de a preceder, talvez até de a gerar. É algo comum dentro do discurso do design, máximas que dão a entender minimalismo que se tornam em feitiços generativos que engendram não só outras expressões como modos de fazer e pensar o design.

A expressão less is more, por exemplo, gera novas instâncias de modo combinatório. More is Less, Less is Less, More is More, Mess is Bore, etc. A forma destas expressões é útil pelo modo como gera mais expressões. Funcionam como uma receita. São fórmulas, tanto no sentido de clichés, de estereótipos, como no sentido generativo. A repetição típica da fórmula torna-se, no limite criativa.

O discurso do design gráfico não é puramente visual. A divisão entre forma e conteúdo, entre palavra e forma gráfica não é estanque. O conteúdo contamina a forma, a forma contamina o conteúdo. O conteúdo tem a sua própria forma. A forma visual, gráfica, tem as suas próprias fidelidades, tal como a forma escrita. Como em muitas outras áreas, o design dá-se na intersecção de um conjunto de dispositivos formais. Quando se escreve sobre design usam-se convenções da escrita literária, do ensaio, quando se fala sobre design usa-se convenções performativas, quando se ensina design usam-se formatos de discurso, de organização do espaço e do tempo de aula ou de atelier. Cada um tem a sua dinâmica própria.
1. «How shall we proclaim from the dizzy height of this strange, weird, modern housetop the peaceful evangel of sentiment, of beauty, the cult of a higher life?»

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