“A escravatura é lógica e legítima”, disse Fernando Pessoa aos 28 anos. A polémica chegou agora aos países da CPLP

por Comunidade Cultura e Arte,    13 Fevereiro, 2019
“A escravatura é lógica e legítima”, disse Fernando Pessoa aos 28 anos. A polémica chegou agora aos países da CPLP
“Retrato de Fernando Pessoa”, 1964, óleo sobre tela, por José de Almada Negreiros
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Escritos de Fernando Pessoa mostram que uma das figuras maiores da literatura portuguesa era a favor da escravatura quando este tinha 28 anos.

O nome do poeta português foi escolhido, pela Comunidade os Países de Língua Portuguesa (CPLP), para ser o patrono de um programa semelhante ao Erasmus. No entanto, a polémica instalou-se com protestos por parte dos representantes de Angola.

Segundo o jornal Expresso das Ilhas, de Cabo Verde, em causa estão afirmações racistas e favoráveis à escravatura por parte de Fernando Pessoa. Segundo o mesma fonte, o escritor terá escrito aos 28 anos: “A escravatura é lógica e legítima; um zulu (negro da África do Sul) ou um landim (moçambicano) não representa coisa alguma de útil neste mundo. Civilizá-lo, quer religiosamente, quer de outra forma qualquer, é querer-lhe dar aquilo que ele não pode ter. O legítimo é obrigá-lo, visto que não é gente, a servir aos fins da civilização. Escravizá-lo é que é lógico. O degenerado conceito igualitário, com que o cristianismo envenenou os nossos conceitos sociais, prejudicou, porém, esta lógica atitude“.

No entanto, e segundo o jornal de Cabo Verde, Pessoa foi ainda mais longe no ano seguinte ao escrever: “A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem que cumprir-se, sem revolta possível. Uns nascem escravos, e a outros a escravidão é dada.

Luzia Moniz, presidente da Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana, em Angola, usou o livro “Fernando Pessoa uma quase-autobiografia”, da autoria de José Carlos Cavalcanti Filho, e editado pela Porto Editora, para reforçar a sua posição crítica quanto a esta situação, citando: “Ninguém ainda provou que a abolição da escravatura fosse um bem social” e “Quem nos diz que a escravatura não seja uma lei natural da vida das sociedades sãs?“.

“Não sei se Pessoa é ou não bom poeta. Isso pouco interessa para o caso. A minha inquietação é o uso da CPLP para branquear o pensamento de um acérrimo defensor do mais hediondo crime contra a Humanidade: a escravatura”, disse Luzia Moniz

Já segundo a Angop, agência de notícias angolana, Portugal ao indicar o nome de Pessoa está a tentar “branquear” a imagem do poeta quando existem alternativas viáveis: “Eça de Queiroz, que era abertamente contra a escravatura, Jorge Amado, Corsino Fortes, Alda Lara, Alda Espírito Santo, José Saramago e Mário Pinto de Andrade.

Espera-se dos países africanos membros que revertam essa situação, opondo-se ao nome de Fernando Pessoa, mesmo que com esse digno gesto se crie um novo irritante. Os irmãos de Cabo verde, que neste momento presidem a CPLP, têm uma responsabilidade acrescida nesta questão. Se Portugal olha para a CPLP como um instrumento de dominação dos outros, cabe-nos a nós, africanos, impedir que isso aconteça”, disse ainda Luzia Moniz.

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