A arte livre de se fazer humor

por Lucas Brandão,    3 Fevereiro, 2017
A arte livre de se fazer humor
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Fazer humor não é uma mera profissão, não é um ganha-pão. É uma arte, um dos múltiplos esforços criativos que nos capta a atenção e que nos gera emoção. Quem de nós descarta o bom humor das nossas vidas? Na medida do possível, queremos rir o máximo possível. É de se louvar que a comédia, tanto no palco como na mesa de um café, faça parte do nosso dia-a-dia. No entanto, ainda se louva mais aquele que traz um repertório de saídas que a realidade permite e que as transforma em algo que nos engole numa emoção só: o rejúbilo.

No entanto, e numa fase cada vez mais problematizada da liberdade de expressão, o humor não escapa a críticas; mesmo o humor caraterizado e definido pelos comediantes que figuram nos palcos nacionais. Enquanto alguns o tomam como “mau gosto” (isto quando mexem com as suas afeições ), outros assumem que parte do denominado “humor negro” é feito com malícia e maldade. Meus amigos, é humor. O humor está numa dimensão à parte daquilo que é o politicamente correto. No humor profissionalizado, e para aqueles que estão num espetáculo, existe uma regra: não há tabus, preconceitos, meias medidas ou meias verdades. Tudo aquilo que surge no momento é elemento passível de ser usado nesse discurso humorístico.

O quotidiano traz muitas e muitas situações que são motivos de piada e de sátira. A realidade é questionada e levada a extremos desconhecidos. No entanto, é normal que nos deixemos afetar por emoções menos positivas e até críticas do humor que se faz. O humor não escapa por nos estar tão próximo, por nos ser tão íntimo. É difícil compreender que este tenha uma dimensão muito própria. Enquanto o humor discernir sobre assuntos que nos digam muito, e se for ácido ou mordaz com questões que nos estejam próximas, os dedos continuarão a ser apontados.

O humor é uma modalidade artística. Os humoristas profissionalizados trazem para o palco a sua paixão, a sua motivação, tudo aquilo que alimentou a sua vontade de subir ao palco e dar azo e expressão à sua genialidade. Claro que existem sempre os designados “génios malvados” mas o humor negro não deixa de ser merecedor de uma dádiva. Destaca-se até a coragem de assumir a dianteira em questões fraturantes, em questões que nos deixam em polvorosa. Não é por acaso que tantos frequentam os espetáculos humorísticos como se do teatro se tratasse.

Todo o mérito dos humoristas é-lhes devido. Mesmo que firam suscetibilidades, a culpa não reside naqueles que as proferem. O humor, como traço identitário, não assume diretrizes éticas ou morais. Aliás, o discurso humorístico que é construído, desenvolvido e consolidado durante algum tempo é feito da oportunidade e do virtuosismo criativo. Não representa, porém, aquilo que é o humorista como pessoa, como indivíduo. Define sim o humorista como artista, como ser dotado de criatividade e de eloquência, resgatando o riso do próximo e até a oposição dos mais fervorosos pelas suas causas.

Todo o trabalho do humorista reside nessa liberdade de pensamento, de raciocínio e de expressão. Se lhe impuserem limites, grande parte do seu potencial torna-se nulo. O humorista precisa de que as suas asas não tenham ventos adversos, precisa sim de condições para que todo o seu esplendor se sinta naqueles que o ouvem com a máxima atenção e não prevendo a dimensão do gracejo que lhes espera. Quanto aos detratores, são os maiores ignorantes relativamente a esta modalidade artística. Não é de agora que todos os gostos e todas as fragilidades são fundamento de piada e de sátira. O humor é tão interessante e agregador que até tem, nas suas formas de expressão, formas mais fáceis e difíceis, agradáveis ou desagradáveis, compostas ou simplificadas, simpáticas ou antipáticas, coloridas ou negras. Tudo isto faz parte daquilo que é mais uma arte.

O engenho criativo do humorista enfrenta o desafio da liberdade de construção e de expressão, onde se levantam questões mais ou menos morais sobre o teor dos discursos elaborados. O humor precisa da liberdade, assim como o humorista precisa da oportunidade e da realidade para se apresentar a todos aqueles que gostam de bons momentos de lazer e de humor. Seja ele qual for, do mais simples ao mais complexo, o humor faz parte das nossas vidas e funciona como um tónico estimulador para a alma. A arte de fazer sorrir e rir não é entendida e transmitida de forma consistente por muitos. É por isso que os humoristas enchem teatros e demais espaços culturais. São eles que dedicam o seu suor, o seu trabalho e o seu génio à causa magnânima de fazer o outro rir.

O humor é arte. Alcança-nos a emoção, mesmo que a mais escondida pelo superego freudiano. Faz-nos rir e valha-nos isso. Por isso, e daqui em diante, continuemo-nos a rir do que esta arte tem e terá para dar.

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