A arte já fez parte dos Jogos Olímpicos

por Lucas Brandão,    7 Agosto, 2016
A arte já fez parte dos Jogos Olímpicos
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Numa abordagem a frio, considera-se que o desporto é a demonstração cultural e física de diferentes comunidades e, como tal, se apresenta como arte. Porém, no início do século XX, o desporto englobava em si categorias artísticas, como a arquitetura, a música, a escultura e a pintura. Ao bom jeito olímpico, os mais bem-sucedidos em cada modalidade saíam medalhados. Assim foi durante quatro décadas, desde 1912 a 1952, enquadrado nos espaçados Jogos Olímpicos.

Em quarenta anos, os diferentes comités de deliberação dos Jogos concederam 151 medalhas aos trabalhos originais desenvolvidos e inspirados em atividades desportivas. Esta evidência remonta aos tempos do francês Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos, que concebia a arte como parte integrante deste evento. A justificação da sua inclusão consistia na vontade e na sensação de consolidar o desporto através da bela arte. Esta posição via-se fundamentada nos Olímpicos da Grécia Antiga, em que os eventos desportivos caminhavam em pé de igualdade com os eventos artísticos.

Foi com esta perspetiva que se debateu sobre os moldes dos Jogos, tendo alguma dificuldade em convencer os organizadores locais dos primeiros jogos quanto à pertinência das modalidades mais criativas. Assim, e gorados os obstáculos, foi em Estocolmo que a arte se viu com cunho olímpico. Arquitetura, música, pintura, escultura e literatura foram formalizadas como disciplinas a condecorar, sendo que o ponto de partida para as obras seria a mencionada inspiração no desporto. Mais de trinta artistas submeteram os seus trabalhos e cada uma das categorias atribuiu uma medalha de ouro. Exemplos destas obras são um plano de construção de um estádio moderno, uma Ode ao Desporto, uma Marcha Triunfal Olímpica e até uma pintura representando desportos de inverno.

Nas décadas seguintes, várias pinturas e planos de construção foram apresentados e propostos, apesar da inconsistência dos trâmites das competições. Esta inconsistência chegava ao ponto de, em casos extremos de indecisão, comprometer a atribuição de medalhas. A literatura, por sua vez, desdobrou-se em géneros, sendo eles o dramático, o lírico e o épico.

Porém, a participação neste tipo de eventos era vista de lado, pois punha em risco a reputação dos concorrentes, que foram, na sua maioria, autores desconhecidos, autónomos e independentes. Para além disso, o cariz muito específico das obras a propor prejudicavam a submissão do seu trabalho. Tudo isto não obstava à apreciação das obras por parte do público, alcançando o seu apogeu em Los Angeles (1932). 400 mil fãs visitaram o Museu de História, Ciência e Arte nesse ano e usufruíram da oferta internacional disposta a partir dos Jogos.

Na eclosão da Segunda Guerra Mundial, a abordagem quanto aos Jogos Olímpicos foi profundamente reformulada, descartando a influência monetária e dando primazia exclusiva ao esforço físico e ao amadorismo desportivo. Avery Brundage, o novo presidente do Comité Olímpico Internacional, deu o mote para que se suprimissem as modalidades artísticas dos Jogos e a história não fez por menos. Esta anulou as 151 medalhas concedidas aos vencedores dessas modalidades, mesmo com as iniciativas mais recentes da arte se complementar ao desporto.

Após uma iniciativa frouxa em 1948 denominada “Olimpíada Cultural”, o Comité Olímpico Internacional reviu a atuação artística nos Jogos e, em 2012, criou um concurso de Desporto e Arte para valorizar “os valores desportivos e olímpicos de excelência, amizade e respeito”. Os trabalhos que se viram galardoados foram expostos em Londres, cidade acolhedora dessa edição olímpica.

No fundo, a arte nunca se desvinculou do desporto e dos Jogos Olímpicos. As diversas sessões de abertura e de encerramento das hostilidades deram lugar a espetáculos artísticos com valor histórico e cultural elevado e de primor estético. Com a tutela e a colaboração de individualidades de nomeada no papel da cultura e da arte, todos os Jogos sentem em si a fragrância artística que nunca abandonou a sua essência. Desde os tempos e desde as convicções de Coubertin, tudo se sucedeu numa harmonia que só consolida o desporto como forma de arte.

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