Zygmunt Bauman: o sociólogo que nos mostra o lado humano e desumano da realidade em que vivemos

por João Gomes Esteves,    9 Janeiro, 2017
Zygmunt Bauman: o sociólogo que nos mostra o lado humano e desumano da realidade em que vivemos
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Quem é Zygmunt Bauman, que nos vem falar, entre outros assuntos, sobre Comunidade, Democracia, Relações Humanas, Rede e Pós-Modernidade? E se a revolução pós-moderna tivesse tido início num desabafo de uma mulher anónima, perante 6 milhões de pessoas, acerca da ejaculação precoce do seu marido? E o Facebook, produto dessa nova era, não fosse mais que um fenómeno de um indivíduo solitário, no meio de uma multidão de solitários? Estas e outras reflexões, em análise, com o conceituado sociólogo polaco Zygmunt Bauman.

Zygmunt Bauman nasceu em 19 de Novembro de 1925 e tornou-se um dos pensadores contemporâneos mais lúcidos e influentes. Em 2011, foi entrevistado, em Inglaterra, no âmbito da conferência “Fronteiras do Pensamento”.

Zygmunt começa por nos falar, nesta entrevista, da incerteza das novas gerações face ao seu futuro, o que é uma novidade para quem, como ele, viveu os tempos áureos do Existencialismo, tão propalado por figuras como Jean-Paul Sartre que nos dizia que teríamos que criar o «projet de la vie».

O pensador polaco também aborda o conceito de Identidade, e como ela está posta em causa, devido à diluição do conceito de Comunidade que conferia às pessoas o sentimento de pertença e, portanto, maior estabilidade na construção de sua identidade.

O sociólogo acaba, inevitavelmente, por falar do período em que nos encontramos, não sabendo ao certo classificá-lo como «charneira de algo», ou seja, a passagem de uma «ordem social» para outra diferente, ou, antes, um «estado de coisas» que irá perdurar no tempo.

No entanto, tem a certeza de dois fenómenos: o primeiro refere-se à interdependência mundial, dando como imagem que o mundo se tornou, pela primeira vez na História, um «único país» e, por outro lado, um segundo fenómeno que diz respeito ao Homem e à sua incessante busca pelo controlo dos fenómenos naturais do planeta e que, malgrado os sucessos da sua investigação, teve também como resposta o planeta ter atingido os seus limites.

Posteriormente, refere que um dos perigos para a democracia é o «divórcio entre a Política e o Estado». O pensador refere que os Estados, na sua maioria, têm utilizado a estratégia de subcontratar empresas para exercerem aquilo que ele, como Estado que é, deveria assegurar. Nesse sentido, ele profetiza, apesar de não se considerar, nem querer ser um profeta, uma estrutura a nível global, uma espécie de Estado Global que implementasse uma democracia à escala planetária.

Seguidamente, Zygmunt Bauman partilha um conceito interessantíssimo: a Ágora Pós-Moderna. A Ágora, como é do conhecimento geral, é um termo grego que designava as praças públicas onde as pessoas se juntavam para falar e discutir, e onde estavam presentes feiras e mercados. Para o entrevistado, a «Ágora antiga» equivale-se, hoje em dia, aos «talk-shows» televisivos onde as pessoas participam, enviam mensagens, discutem, etc. O problema é que nesses locais não são discutidas ideias que visam o bem comum e o futuro de uma Nação, mas antes o confessionalismo dos problemas mais íntimos de cada um.

Ainda no domínio da pós-modernidade e das novas formas de comunicação, o pensador polaco fala-nos do fenómeno do Facebook. Ele põe em causa o conceito de amizade no Facebook, afirmando que a atractividade da rede social está na facilidade com que se desconecta da amizade virtual, evitando aquilo a que o sociólogo afirma de «evento traumático», isto é, o romper da relação «olhos nos olhos».

De seguida, Zygmunt Bauman reflecte em torno das condições indispensáveis para uma vida satisfatória, recompensadora e, dentro dos possíveis, feliz. Para ele, existem dois aspectos essenciais: um é a segurança, o outro é a liberdade. Sem a segurança, a liberdade seria um «completo caos», mas, por outro lado, segurança sem liberdade levaria à «escravidão». Para Zygmunt, o problema está no seguinte: durante toda a História, não se conseguiu uma «mistura perfeita» de ambas componentes, pelo que, cada vez que se ganha de um lado, perde-se do outro.

Já a finalizar, Bauman fala um pouco do conceito de felicidade. Segundo ele, não há uma forma de se ser feliz, mas sim várias formas de o ser. Contudo, adianta que existem duas condicionantes na vida de uma pessoa que podem contribuir para a sua felicidade ou infelicidade. São elas o destino e o carácter.

 

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