‘Hitchhiker’: uma viagem de regresso aos anos 70, pelo mestre Neil Young

por José Malta,    10 Setembro, 2017
‘Hitchhiker’: uma viagem de regresso aos anos 70, pelo mestre Neil Young
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Hitchhiker é o nome do trigésimo oitavo álbum do músico canadiano Neil Young. O álbum que fora gravado em 1976 chega passados mais de 40 anos, em Setembro de 2017, exibindo um trabalho que facilmente nos leva ao percurso musical de Neil Young durante os anos 70. Esta é uma espécie de regresso a um Neil Young mais jovem do que aquele que hoje conhecemos, numa fase em que explorava as melodias em tom de balada, onde a guitarra acústica e a sua voz eram os únicos instrumentos presentes nas suas canções. Hoje, a caminho de completar 72 anos em Novembro, Neil Young é conhecido como um músico e compositor de grande prestígio, tendo passado por diversas bandas e por ser detentor de uma carreira a solo notável devido às suas qualidades enquanto compositor e letrista. O regresso aos anos 70 é, para uma geração, o regresso a uma carreira de Neil Young que, apesar de ter dado frutos com os álbuns Everybody Knows This Is Nowhere em 1969, After The Gold Rush em 1970 ou ainda Harvest em 1972, continuava a ser expandida recorrendo a diferentes estilos e correntes musicais como o rock, o country e o folk, que marcaram toda a sua carreira musical. Hitchhiker (traduzido à letra para português, Mochileiro: um aventureiro de poucos recursos que parte à aventura com uma mochila às costas) é então o regresso a um Neil Young acústico, uma aventura nos anos 70 sem qualquer vestígio do rock e da guitarra eléctrica, onde a voz, a guitarra acústica, a harmónica e as suas tão ilustres letras são os principais elementos que marcam este álbum. Algumas das canções foram posteriormente gravadas noutros álbuns mas as versões originais de 1976 que nunca antes tinham sido editadas foram finalmente dadas a conhecer neste trabalho musical composto por dez canções.

O álbum inicia-se com Pocahontas, personagem que dá nome à primeira faixa do álbum, uma canção que fora lançada em 1979 no álbum Rust Never Sleeps. Trata-se de uma balada típica do músico canadiano que nos habituou a melodias acústicas próprias, mostrando assim a sua identidade com letrista. Para além da personagem Pocahontas o músico coloca também a figura de Marlon Brando na canção, algo que se pode notar nos versos “Marlon brando, pocahontas and me”. Powderfinger, canção também lançada no álbum Rust Never Sleeps e gravada com os Crazy Horse, mantem-se no mesmo registo mostrando novamente o trabalho melódico de Neil Young durante os anos 70. Captain Kennedy apresenta um estilo mais country que o músico também incluiu na sua carreia em várias canções e cuja letra é narrada por um jovem marinheiro que conta a história do seu pai, Captain Kennedy. Hawaii é uma novidade neste álbum, tratando-se de uma canção plena do espírito de Neil Young, assim como também Gimme Strength, que dá força a uma onda poética bem presente neste álbum, numa melodia calma onde a harmónica do músico emerge dando outras tonalidades musicais à canção em si. Ambas as canções apenas eram conhecidas de algumas performances ao vivo e nunca antes tinham sido editadas.

Um lama, vindo também do álbum Rust Never Sleeps, chega com a canção Ride My Llama, sendo esta a faixa mais curta do álbum, seguindo-se da canção que dá o nome ao álbum: Hitchhiker, que já fora lançada numa versão rock no álbum Le Noise em 2010, começa com um compasso mais acelerado que as anteriores canções. Tal como o nome indica, a canção fala de um aventureiro que partiu com a sua mochila às costas em busca de oportunidades percorrendo várias cidades e países, remetendo um pouco para o percurso de vida que Neil Young também levou. Segue-se Campaigner, canção presente no álbum Decade de 1977, que fala de um viajante solitário que encontra o lugar onde todas as pessoas têm alma, até mesmo o controverso presidente dos Estados Unidos Richard Nixon conforme os versos da música assim o dizem: “Where even Richard Nixon got soul/Even Richard Nixon has got it Soul”. Human Highway, lançada no álbum Comes a Time de 1978, começa com o timbre estridente da harmónica seguindo-se das cordas e da voz de Neil Young , terminando o álbum ao som de um piano com The Old Country Waltz, canção gravada com os Crazy Horse em American Stars ‘n Bars de 1977, desta vez com a presença da voz e da harmónica de Neil Young mas com a ausência da sua guitarra, a canção que mais se destaca das anteriores e que termina assim um álbum repleto de canções cheias de harmonia.

Num cômputo geral, Hitchhiker é um álbum que mostra o poder das letras e canções de Neil Young de forma bastante convincente. As suas canções com substancial poético, as cordas da guitarra acústica sempre presentes, e a sua voz melodiosa são elementos que são presença assídua em todas as canções. Neil Young que, mais do que musíco é também um activista, mostra neste álbum as suas características líricas e musicais como só o próprio sabe fazer. Apesar ser composto por apenas dez canções, algumas delas de curta duração, Hitchhicker é um álbum pleno de musicalidade, livre de qualquer vestígio sonoro mais agressivo, um hino à liberdade de espírito apenas existente num mestre com as qualidades musicais e humanas que só Neil Young possui.

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