Father John Misty: Os “moves” todos e uma intensidade tardia

por Miguel de Almeida Santos,    21 Novembro, 2017
Father John Misty: Os “moves” todos e uma intensidade tardia
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No passado dia 20 de Novembro Father John Misty (FJM) terminou a sua tour internacional de apresentação do seu mais recente álbum Pure Comedy no Coliseu dos Recreios em Lisboa, numa sala completamente cheia. Antes do irreverente Josh Tillman subir a palco, Weyes Blood, o projecto musical da norte-americana Natalie Mering, abriu as hostilidades com uma intensidade tranquila, uma sonoridade pacata e uma bonita voz, bem apoiada pela instrumentação que a circundava. Entre músicas do seu mais recente álbum, Front Row Seat to Earth e uma cover de Soft Machine, o concerto funcionou perfeitamente como suave introdução ao que se seguia. “Is this the place where gladiators kill lions and stuff? Our music is a lot like that, something is dying up here”, gozou Natalie, referindo-se ao espaço do Coliseu, antes de empunhar a guitarra como arma de escolha. Pelo meio houve tempo para relembrar a actuação na Galeria Zé dos Bois e agradecer a quem a tornou possível. A sua voz ecoou pelo Coliseu e a sua atitude divertida e bem disposta certamente que despertou em quem não a conhecia uma vontade de desvendar a discografia da jovem artista.

Depois do curto mas sentido concerto de Weyes Blood, os fãs acotovelaram-se até encontrarem a posição ideal (dentro do possível) para o concerto que se avizinhava. Josh não os fez esperar muito: a sua banda entrou primeiro mas vimo-lo surgir dos bastidores com um ar assertivo. Em “Pure Comedy”, a faixa que o introduziu a Lisboa, reinava o silêncio na sala, mas mal terminou o cantor foi brindado com um grande aplauso por parte do público. Nos primeiros momentos do espectáculo ouvimos Pure Comedy com fartura e até com um engano facilmente perdoável em “The Ballad of the Dying Man”. Charmoso e despreocupado, soltou um “Oops!” sarcástico antes de continuar a música. Em “Things It Would Have Been Helpful to Know Before the Revolution” notou-se a falta dos bonitos sopros que adornam este tema, e foi uma pena não ver esta secção presente no concerto.

O seu amoroso segundo álbum I Love You, Honeybear foi o álbum mais representado no concerto, começando por “Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins)”, interpretada com pouco sentimento. Os fãs foram incansáveis durante toda a actuação mas o mesmo não pode ser dito de FJM. Acusava a fadiga de uma tour que se crê ter sido intensa e o espectáculo acabou por soar impessoal em vários momentos. Não faltaram os seus “devaneios” pelo palco, a sua dança de “bêbado charmoso” (e a versão para discoteca em “True Affection”) mas ao longo da actuação foram poucas as vezes em que Josh se dirigiu ao público. No entanto, brindou-o com alguns momentos à sua maneira: o acenar discreto e tonto sem largar o microfone a um fã sortudo em “When You’re Smiling and Astride Me”, o afastar tímido do holofote antes de iniciar “Bored in the USA”, cantando-a relaxado e descontraído. Esta é uma das suas músicas de crítica mais acutilante e é também uma das mais celebradas, e o artista parecia contemplar esta dualidade em certos momentos da balada.

Depois de “I Love You, Honeybear” fechar a actuação, o público clamava por um encore à altura do rufar incessante de pés que enchia o silêncio do Coliseu naquele intervalo de tempo e teve-o. “Thank you so much, this is incredible”, agradeceu, visivelmente entusiasmado com a recepção calorosa. “These poor people have been holding signs the whole show. What does it say? Oh, now that I’m reading you put it down”, gozou Josh antes de ler o cartaz: “Give me the setlist or let me touch your beard”, desce para conceder o pedido e fazer o furor de uma fã sortuda. “You don’t even like the music, do you, you’re just a beard fetishist”. “Real Love Baby” iniciou a última parte do concerto que terminou com uma pujante versão de “Ideal Husband”. Despediu-se com uma honrosa vénia e distribuiu beijos pelo ar com um sorriso. No meio de passeios pelo palco e uma setlist bem composta o norte-americano começou tremido mas acabou com toda a glória que o seu folk transmite. Quem o viu saiu de lá satisfeito, especialmente a sortuda que lhe cofiou a barba.

Setlist:
Pure Comedy
Total Entertainment Forever
Things that Would Have Been Helpful to Know Before the Revolution
The Ballad of the Dying Man
Nancy from Now On
Chateau Lobby
Strange Encounters
Nothing Good Ever Happens At The Goddamn Thirsty Crow
Only Son of the Ladiesman
When the God of Love Returns There’ll Be Hell to Pay
When You’re Smiling and Astride Me
True Affection
This is Sally Hatchet
The Night Josh Tillman Came to Our Apartment
Bored in the USA
I’m Writing a Novel
Hollywood Forever Cemetery Sings
Love You, Honeybear

Encore:
Real Love, Baby
So I’m Growing Old on Magic Mountain
Holy Shit
Ideal Husband

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